A Pinacoteca de São Paulo apresenta a exposição “Hudinilson Jr.: Explícito”, que reúne 77 obras provenientes de uma expressiva e recente doação com 95 itens ao acervo do museu realizada pela família do artista e pela Galeria Jaqueline Martins. Com curadoria de Ana Maria Maia e assistência de Thierry Freitas, ambos da equipe do museu, o recorte elucida, de maneira panorâmica, aspectos da trajetória desse “artista total”, falecido em 2013 aos 56 anos.
Hudnilson Jr. cursou artes plásticas na FAAP entre 1975 e 1977 e em 1979 fundou com os artistas Rafael França (1957-1991) e Mário Ramiro (1957) o grupo 3NÓS3, que até 1982 realizou intervenções artísticas na paisagem urbana de São Paulo. Em 1984 participou da 1ª Bienal de Havana e da exposição Arte Xerox Brasil, na Pinacoteca de São Paulo, da qual foi o curador. Expôs na 16ª e na 18ª Bienal Internacional de São Paulo (1981 e 1985) e na 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, em 2001.
Essa exposição agora reúne fotografias, xilogravuras, desenhos, documentos, cadernos, objetos e trabalhos em xerografia. Entre os últimos consta uma de suas séries mais conhecidas, Exercício de me ver (1980-1984), que marca seu pioneirismo, no início dos anos 1980, no uso da xerox como suporte artístico no Brasil. Entre 1975 e 1981, Hudinilson Urbano Jr. (1957-2013) coordenou o Centro de Xerografia na Pinacoteca, no qual foi responsável por fomentar uma produção prática, teórica e editorial nesse suporte. Realizou ainda, na instituição, quatro exposições individuais e curou duas coletivas com trabalhos produzidos a partir do mesmo suporte.
Durante o período de pesquisas e dispondo frequentemente do próprio corpo nu, utilizou uma fotocopiadora da instituição para realizar ações que unem performance e registro e que acabaram tornando-se marcos importantes da arte produzida no período. Com a doação, a série retorna agora ao espaço onde foi concebida. Em Detalhe do detalhe (1981-1983), espécie de desdobramento de Exercício de me ver, Hudinilson Jr. ampliou pequenos pedaços da primeira série até sua quase total abstração, escapando assim de uma eventual censura devida à aspiração erótica e pornográfica da obra. Dessa necessidade constante de se expor, de se tornar explícito, surge também a obra Intra Narciso (1990), em referência à personagem da mitologia grega que se apaixona pela própria imagem. A figura, adotada pelo artista como codinome ao longo da vida, aparece em boa parte de suas obras.
“Ainda que íntima e particular, sempre calcada nas experiências pessoais, sua obra se prestou a testar os efeitos de se estar exposto, sujeito às relações e disputas de um repertório comum”, reflete a curadora da mostra. O museu e a cidade, portanto, foram duas instâncias da vida pública com as quais o artista se engajou. Esse interesse consta nos projetos que desenvolveu no decorrer de mais de três décadas de carreira, e que agora, graças ao gesto generoso de sua família, podem se unir às quatro obras já existentes na coleção da instituição, abrindo caminhos para que a Pinacoteca venha a tornar-se um dos principais locais de pesquisa sobre o legado do artista.
Hudinilson Jr.: Explícito
Curadoria: Ana Maria Maia, com assistência de Thierry Freitas
Abertura: 14/03/2020, 11h
Visitação: até 17/08/2020; quarta a segunda, das 10h às 18h
Pina_Estação: Largo General Osório, 66 – Luz – 2º andar. Entrada gratuita.