Atacando principalmente as plantações de soja, a mosca branca é um dos insetos mais temido pelo agronegócio. E como toda a praga, ela só aparece quando o ecossistema está em desequilíbrio. Mas, se uma floresta que levou dezenas, centenas ou milhares de anos para estar em perfeito equilíbrio é “transformada”, do dia para a noite, em quilômetros de monocultura de soja transgênica, seria o homem ou a mosca branca a verdadeira praga desta cena?
Compreendendo a Terra como um organismo vivo, Henrique Cesar usa como metáfora a mosca branca para falar sobre a vida. Com personagens que conectam o céu com a terra, a exposição nos convida à olhar para a natureza e nos percebermos como parte desta. Podemos interpretar que suas imagens nos alertam, de forma sútil e sem levantar bandeira, que a natureza está preparando sua própria profecia e que os urubus e fungos estão a espreita para devorar nossos corpos putrificados.
Nas palavras do artista, “A força da simbiose é tão forte, que para frearmos esta simbiose temos que ser mais forte que ela. Quando eu falo em simbiose, eu falo desta relação perfeita que há entre as coisas. Esta relação que a gente quebra quando pensa que o inseto é uma praga. Ou melhor, quando encaramos que o inseto é uma praga. Dai quebramos qualquer relação simbiótica. Porque então temos que ‘tratar’ a mosca branca, por exemplo, com pesticida ou com um controle biológico”.
As relações simbióticas que Henrique Cesar problematiza em seus desenhos e esculturas tornam visível aquilo que a maioria dos humanos não conseguem enxergar: do mesmo modo que os agentes humanos destroem as florestas, os demais agentes do cosmo e dos reinos animal, vegetal, fungi, protista e monera respondem a esta violência. Pois, se a mosca branca destrói uma plantação de soja e as raízes das árvores racham o asfalto, é porque a natureza está insurgindo. Esta é uma possível leitura que podemos fazer da exposição Mosca Branca.
Mosca Braca
Data: Até 29/01/2022
Local: Galeria Vermelho
Endereço: Rua Minas Gerais, 350, São Paulo