A Verve Galeria está cheia de boas novas neste ano de 2021. Agora, ela acaba de anunciar a representação de Gustavo Rezende! O artista nasceu em Passa Vinte (MG) e mudou-se para São Paulo ainda bem jovem, onde vive e trabalha até hoje. Além de ser bastante conhecido por suas esculturas, sua trajetória também inclui trabalhos muito significativos em desenhos, gravuras, fotografia, vídeo, objetos e pinturas. Na casa nova, ele já tem uma exposição planejada para acontecer no segundo semestre de 2021, paralela à Bienal de São Paulo.
Graduado em Arquitetura pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, Rezende revela em sua prática reflexões adjacentes de sua formação, especialmente ao considerar interações entre objeto, escala e espaço arquitetônico. A escolha por cursar arquitetura o aproximou mais das artes visuais. Ainda na faculdade, ele se matriculou em aulas de modelo vivo oferecidas pela Pinacoteca de São Paulo, vindo a trabalhar na instituição posteriormente na equipe de arte-educação. Foi lá, inclusive, que ele teve sua primeira exposição individual, no último ano da graduação, em 1984. Desde a metade dos anos 90, juntamente de seu ofício como artista, ele também trabalha como professor universitário, integrando a grade do curso de Artes Visuais na Fundação Armando Álvares Penteado, (FAAP), onde leciona escultura.
Gustavo não apenas desenvolve e pensa sobre seu fazer como artista, mas também sobre a arte no geral. Para ele, o acontecimento “obra de arte” está profundamente ligado à relação do sujeito com o objeto, seja esse sujeito o espectador ou o artista. Embora essa seja uma teoria que é comumente atribuída a Marcel Duchamp, defende que ela simplesmente existe, que é inerente a qualquer obra de arte. Sendo assim, não teria sido algo criado pelo artista francês, mas sim percebido e assimilado. Desta forma, o que o sujeito faz uso (consciente ou inconsciente) de processo de livre-associação quando apreende e compreende o conteúdo que dá sentido de cada obra. O que, em resumo, faz com que a obra se revele para o espectador/artista.
A ideia da “revelação” como algo um tanto misterioso e enigmático é algo que tem grande importância na carreira de Gustavo, seja na arte ou na arquitetura. Foi a partir de experimentos com a fotografia que ele se deu conta desse significado do que era o “revelar”. Ali não significava apenas passar uma imagem para um papel. Havia, para ele, uma diferença entre as duas imagens, não era a mesma. O simples fato da imagem estar em outro plano físico, diferente, já fazia com que ela revelasse outras questões.
Depois de fazer experimentações em desenho e fotografia utilizando seu corpo como componente, o artista foi ampliando seu interesse no elemento figurativo. Assim, no início dos anos 2000, surgiram as primeiras esculturas que remontam à imagem humana e pelas quais são bastante conhecido. Anteriormente, suas esculturas feitas em elementos como madeira e bronze tinham formas mais abstratas, que sugeriam formas ancestrais ou mesmo de animais, a exemplo de Zigmund e Zinglid (1991) e Thing (1987).
Os corpos que vão surgindo em seus trabalhos vão virando personagens e até mesmo sendo batizados com nomes, como Maxwell e Allan. Em texto publicado no livro Gustavo Rezende: Uma antologia, organizado por Tadeu Chiarelli, o artista responde ao ser perguntado se a imagem das esculturas são necessariamente a sua própria: “Não, não acho que sejam eu, mas [ali] também tem eu. Às vezes é meu corpo, mas é claramente outra pessoa. Cada nome veio de um fato, de uma experiência. O Thompson é um filósofo, o Mark um amigo. São momentos poéticos. Quando tem nome de gente é super cool, quando não tem, é uma ideia. Tudo é a respeito de uma ideia de sujeito, verbo e predicado… vendo agora, desse momento”.
Eles podem estar sozinhos, examinando o espaço e as posições do corpo, mas também podem estar acompanhados de elementos além do humano, podendo ser poças ou animais; em A presença sublime e o fluxo das representações (2006), por exemplo. Mas também podem vir acompanhados de outros corpos, como em Gus amoreaux del’abîme attaché (2006) e Dois homens em pé (2014). Essas presenças geram interações que incitam as revelações, numa busca por representações que não fossem apenas analíticas, mas trouxessem algo de sublime, caminhando às vezes para fábulas.
Os trabalhos de Gustavo Rezende podem estão presentes em diversas coleções importantes, podem ser encontrados nos acervos do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro/Coleção Gilberto Chateaubriand (MAM Rio), Pinacoteca de São Paulo, dentre outros. Suas últimas exposições individuais aconteceram em 2019, no Museu da Cidade de São Paulo – Casa do Bandeirante, e em 2018, no Projeto Parede do MAM-SP!