O ARTEQUEACONTECE preparou um roteiro especial para quem quer visitar Inhotim e não sabe por onde começar, ou o que não perder!
Para quem tem apenas um ou dois dias no Parque, é preciso agilidade e planejamento para não perder os mais importantes highlights de Inhotim. O museu a céu aberto tem galerias, instalações e esculturas espalhados em mais de 140 hectares, ocupados por um incrível jardim botânico com mais de trezentas espécies de plantas nativas e exóticas.
Chegando ao museu, partindo da recepção, a primeira parada é a galeria dedicada à obra de Lygia Pape: Ttéia 1C. A obra faz parte da última fase da carreira da artista, uma instalação composta de fios metalizados esticados do piso ao teto, iluminados de maneira a criar ilusões ópticas e desvios de profundidade. Ttéia 1C fica dentro de um pavilhão desenhado especialmente ela, onde não há nenhuma entrada de luz externa a não ser pela porta.
Em seguida, mantendo o roteiro “laranja” do mapa de Inhotim, passe pela Galeria Adriana Varejão. Lá encontramos seis trabalhos da artista carioca, todos no campo da pintura. A primeira obra do pavilhão, ainda no jardim, é Panacea phantastica (2003-2007), uma série de pinturas em azulejos nas quais Varejão pintou 50 tipos de plantas alucinógenas de diversas partes do mundo. Os azulejos, inclusive, são recorrentes em outros trabalhos da galeria. No piso superior, há “Celacanto Provoca Maremoto”, de 2004, uma enorme instalação de pinturas em cerâmica sobre tela, queimadas para lembrar azulejos portugueses. As ondas do mar evocam a navegação e o rococó do barroco.
A instalação “Folly” (2005-2009), de Valeska Soares, é a próxima parada do nosso roteiro. Um pequeno gazebo espelhado abarca uma vídeo-instalação que envolve os espectadores numa dança pelo espaço.
Depois, é imperdível visitar a Galeria Psicoativa Tunga, um enorme pavilhão que abriga diversas obras do artista, falecido em junho de 2016. O espaço tem um pé direito altíssimo para receber as grandes esculturas e instalações de grande escalar criadas por toda a carreira de Tunga. Diferente de outros espaços em Inhotim, a galeria é toda cercada de vidro, o que dá ao público uma convivência quase direta com a exuberante mata do lado de fora e as sombras e raios solares que incidem sobre as obras.
Outra obra que merece atenção dos visitantes é “Ahora juguemos a desaparecer II” (2002), do artista cubano Carlos Garaicoa. A vídeo-instalação demonstra um experimento em processo, quando arquiteturas são postas em chamas e deflagram uma série de discussões possíveis, desde a emergência de novas ordens sociais ao padecimento de culturas seculares. Muitas vezes a condição social de diferentes épocas e culturas constrói percepções singulares do tempo, por meio da observação da natureza ou pela materialização através de artefatos, do relógio de sol à obra de arte, por exemplo.
Nesta região do parque encontra-se a gigantesca instalação de Chris Burden, “Beam Drop”, um site specific que recria uma obra realizada em 1984 no Art Park, no Estado de Nova York, destruída alguns anos depois. A primeira vez que essa obra foi remontada foi em Inhotim: durante muitas horas, um enorme guindaste derrubou vigas de ferro em uma poça de cimento fresco. O resultado é uma espécie de florestal escultura de grandes dimensões que ocupa o alto de uma montanha.
Depois de passear pela região e apreciar a vista, desça a pé até a Galeria Cosmococa, onde trabalhos de Hélio Oiticica realizados em parceria com o cineasta Neville D’Almeida convivem em diversas salas. São instalações que os criadores chamaram de “quasi-cinemas”: projeções de slides, trilhas sonoras e uma ambientação para o público pular, deitar-se em redes ou até entrar em uma piscina. São cinco “quasicinemas” que chamaram “Blocos-Experiências em Cosmococa”.
Partindo para as outras rotas do mapa de Inhotim, comece pelo Sonic Pavilion, do artista americano Doug Aitken. O projeto trata-se de uma intervenção na terra: o artista mandou cavar um buraco de 200 metros de profundidade no solo e instalou diversos microfones para captar o som que a terra emite. Em tempo real, caixas de som emitem o ruído captado (tratado por um sofisticado sistema de equalização e amplificação) dentro de um pavilhão de vidro circular, todo vazio. Aitken encontrou em Inhotim não apenas as condições técnicas para o desenvolvimento da obra, mas também um contexto onde o trabalho fizesse sentido.
Depois, não deixe de parar na incrível instalação de Matthew Barney – um enorme iglu de vidro abriga um gigantesco trator que segura uma árvore feita de resina branca. Em “De Lama Lâmina”, Matthew Barney se apropria das mitologias do candomblé como referência para tecer uma narrativa sobre o conflito entre Ogum, orixá do ferro, da guerra e da tecnologia, e Ossanha, orixá das florestas, das plantas e das forças da natureza.
Descendo o roteiro, é imprescindível visitar as galerias Miguel Rio Branco e Claudia Andujar, dedicadas especialmente à linguagem fotográfica. Na primeira, encontramos trabalhos dos anos 1970 a 1990 do artista espanhol radicado no Brasil. Na segunda, as séries de fotografias realizadas por Andujar em suas visitas a tribos indígenas da Amazônia.
Em seguida, passe pela Galeria Doris Salcedo e visita a instalação de Olafur Eliasson que fica no meio de uma pequena trilha entre as árvores. Dali, visite o penetrável de Hélio Oiticica, “Magic Square #5” (1977), parte de um grupo de trabalhos em torno das ideias de praça e quadrado: em inglês, a palavra “square” é usada para ambos os significados.
Caminhando em volta do lago, chega-se então ao Narcissus Garden, instalação no telhado do Centro de Educação e Cultura do parque. Esta é uma nova versão da obra da artista japonesa Yayoi Kusama, originalmente realizada durante a 33a Bienal de Veneza (em uma participação extra-oficial de Kusama no evento). Naquela ocasião, Yayoi instalou, sem autorização da Bienal, 1.500 bolas reflexivas sobre um gramado e as vendeu para o público por US$ 2 cada – a obra era acompanhada pela placa “Seu narcisismo à venda”.
Voltando para a região da recepção, passe pela Galeria Praça, onde é possível deleitar-se com a incrível obra sonora de Janet Cardiff, “Forty Part Motet”. O moteto é um tipo de composição polifônica medieval. Cardiff partiu da canção “Spem in Alium nunquam habui”, composta para celebrar o aniversário da Rainha Elizabeth I em 1575. São oito coros de cinco vozes, e a artista gravou com microfones individuais cada um dos integrantes do Coral da Catedral de Salisbury. A instalação tem 40 alto-falantes, um para cada voz, dispostos em forma circular. O público pode andar pelas caixas de som e escutar cada voz individualmente, percebendo as diferentes tonalidades e harmonias do moteto.
Para não se perder:
Inhotim: Brumadinho; terça a sexta, 9h30-16h30; sábado, domingo e feriado, 9h30-17h30. Ingressos: R$44 (gratuito às quartas).