Marcel Broodthaers (1924-1976), que já expôs em espaços como MoMA, Nova York, Reina Sofia, Madrid, e Tate Gallery, Londres, ganha sua primeira individual no Brasil a partir do próximo sábado, 2.4, na Gomide&Co. Antes disso, trabalhos do artista belga haviam aportado no país para participar da 27ª Bienal de São Paulo, em 2006, curada por Lisette Lagnado. A mostra ‘Marcel Broodthaers: Décor’ reúne 37 obras, realizadas entre 1963 e 1975.
Dono de uma ironia afiada, Broodthaers trabalhou com diferentes suportes (escultura, pintura, audiovisual) muitas vezes explorando o papel das instituições museológicas, do artista e da própria arte na sociedade.
“Venho usando telas fotográficas, filmes e slides para estabelecer relações entre o objeto e a imagem desse objeto, além das relações que existem entre o signo e o significado de um objeto particular: a escrita”, disse em 1968.
Até se autodeclarar artista visual, aos 40 anos, Broodthaers trabalhou como poeta. Nos 12 anos seguintes, sua produção, no entanto, continuou poética e bem-humorada. Na sua primeira exposição individual, ele utilizou algumas cópias não vendidas de seu último livro de poesia, Pense-Bête, e as transformou em esculturas prendendo-as à mesa com gesso.
Um de seus projetos mais ambiciosos, o Musée d’Art Moderne, Département des Aigles, foi um museu itinerante que ele operou de 1968 a 1972 e que não dedicava-se ao seu trabalho como artista, mas questionava as formalidades e problemáticas estruturais dos museus, assim como critérios de legitimação de uma obra. Lá, ele produzia materiais análogos às atividades de um museu como, por exemplo, documentações, cartazes e convites.
Em seus anos finais, criou décors imersivos, instalações onde mesclava trabalhos antigos e novos, reinventando-os. Na exposição, o público poderá conferir, por exemplo, Ne dites pas que je ne l’ai pas dit (1974). A instalação é composta por duas palmeiras, um papagaio, uma vitrine contendo duas cópias do catálogo de sua exposição homônima na Wide White Space Gallery de 1966 – uma cópia de 1966 e uma reimpressão de 1974 –, e ambientada por uma gravação do artista lendo o poema de sua autoria Moi Je dis Je Moi Je dis. Tais obrasfuncionam como retrospectivas de seu próprio trabalho. Ao mesmo tempo em que subvertem o conceito de retrospectiva, fazem referência à variação da narrativa do artista dependendo do contexto e circunstância na qual a obra se encontra.
São significativos também os trabalhos La Pluie (projet pour un texte), de 1969, exibido na Bienal de São Paulo, no qual Broodthaers tenta escrever um texto com uma caneta tinteiro debaixo da chuva, e a série de serigrafias La Signature (1969), em que reproduz repetidamente sua assinatura.
A exposição também apresenta alguns exemplares da série Poèmes Industriels que o artista criou enquanto diretor do seu próprio museu. São placas que utilizam a imagem como texto e o texto como imagem.
Marcel Broodthaers: Décor
Data: 2 de abril a 28 de maio de 2022
Local: Gomide&Co
Endereço: al. Ministro Rocha Azevedo, 1.052 – Jardim Paulista
Funcionamento: segunda à sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 15h
Ingresso: grátis