Galeria Nara Roesler abre a primeira individual de André Griffo

Artista fluminense nos convida a observar detalhes que refletem as violências das narrativas relativas às histórias do Brasil e suas ruínas

por Beta Germano
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André Griffo, na galeria Nara Roesler
André Griffo, na galeria Nara Roesler

É por meio de uma visão peculiar dos espaços que André Griffo busca elementos ou vestígios que o ajudam a questionar a formação de estruturas de poder. Com suas pinturas marcadas pela impressionante habilidade técnica, Griffo nos convida a observar os mínimos detalhes das imagens arquitetônicas que constrói, pois elas refletem as muitas violências que dão corpo às narrativas relativas às histórias do Brasil e suas ruínas.  São inquietações  relativas às essas estruturas e suas representações simbólicas que motivaram o artista a elaborar sua primeira individual na galeria Nara Roesler, Voarei com as asas que os urubus me deram”, com curadoria de Agnaldo Farias.

A mostra apresenta trabalhos inéditos do artista conhecido pela excelência de seu trabalho pictórico, incluindo duas instalações elaboradas especialmente para a ocasião. Griffo sugere pensarmos nos espaços como lugares onde diferentes temporalidades podem estar sobrepostas. Nossa realidade, de acordo com Griffo, é composta por esses diferentes tempos somados a elementos extremamente simbólicos. Desta forma, os ambientes criados pelo artista podem ser entendidos como estímulos para uma análise mais cuidadosa da justaposição de objetos anacrônicos que podem nos dar pistas  da permanência de estruturas de poder na formação do Brasil.

André Griffo, na galeria Nara Roesler
André Griffo, na galeria Nara Roesler

Griffo costuma trazer, também, referências de artistas consagrados da história da arte, como Michelangelo, Cranach e Van Eyck. Um exemplar pode ser visto na exposição: Antônio agredido pelos demônios, que faz referência a Sant’Antonio battuto dai diavoli do renascentista Stefano di Giovanni (Siena, 1392–1450), também conhecido como Sasseta. O uso pouco usual que o artista faz do ouro em suas pinturas, aplicando-o sobre os rostos e partes íntimas dos demônios que agridem o santo, chamou a atenção de Griffo, que então refez a composição, incluindo, no entanto, elementos e personagens contemporâneos, aproximando, mais uma vez, diferentes tempos e nos levando a refletir sobre as provações dos santos e quais são adversidades pelas quais passamos nos dias de hoje.

Já na série O vendedor de miniaturas, Griffo cria composições em estações de metrô, lugares de passagem que, devido ao grande fluxo de pessoas, é escolhido por muitos vendedores informais para disporem seus produtos. Todavia, as miniaturas comercializadas pela personagem ali retratada, são figuras representativas do sistema de poder territorial no Rio de Janeiro, tais como líderes religiosos, políticos, santos, milicianos e policiais, transformados em objetos que tanto evocam o sagrado, quanto o lúdico, podendo ser tomados como figuras de ação. Para essa exposição, o artista confeccionou miniaturas tridimensionais dessas personagens que serão dispostas no espaço da galeria, usando estruturas e modos de organização similares às empregadas pelos ambulantes, tais como a disposição sobre lonas e o uso de ganchos.Em A materialização do canto da mãe da lua, outra instalação inédita, o artista ocupa o espaço tridimensional com imagens e objetos que oferecem uma reflexão sobre mecanismos patriarcais que seguem moldando nossa sociedade. Nesse sentido, o próprio observador, tornado uma espécie de ator na cena criada pelo artista, é convidado a perceber como atua na manutenção dos costumes e princípios herdados.

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