David Zwirner promove exposição sobre o mar

Exposição online na galeria americana conta com obras de Gustave Courbet até Marcel Broodthaers, passando por Francis Alÿs e o brasileiro Lucas Arruda

por Beta Germano
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Gustave Courbet
La Vague, de Gustave Courbet

“De tempos em tempos ele ia e pressionava o rosto contra a vidraça para olhar a tempestade. O mar chegou tão perto que parecia bater contra a casa, que estava envolta em espuma e barulho. A água suja chacoalhava como granizo contra a janela e escorria pelas paredes. Sobre a lareira havia uma garrafa de cidra e um copo meio vazio. De vez em quando, Courbet dava um gole e depois voltava para o quadro”, descreveu o crítico e poeta Guy de Maupassant sobre uma visita ao ateliê de Gustave Courbet, em Étretat, quando o artista pintava La Vague (A onda). 

Quem nunca ficou hipnotizado pelo mar como Courbet? Ele pode estar calmo formando um espelho d’água ou assustadoramente revolto ou de ressaca formando impressionantes ondas, mas o mar mar aberto, profundo e ilimitado sugere mistério e imensidão deixando qualquer um impactado. E não é diferente com os artistas: ao longo da história da arte muitos deles tentaram registrar a potência do mar ou entender a magia do horizonte. E quando o assunto é o encontro do mar com o céu há, ainda, uma infinidade de artistas que se dedicam estudá-lo encantador por esse lugar que ninguém jamais visitou e pelas possibilidades de luz e cor durante o crepúsculo.

Fra Nordkapp, de Peder Balke, de 1853
Marine met strand en wandelaars, de Léon Spilliaert, de 1913
Marine met strand en wandelaars, de Léon Spilliaert, de 1913
Effet de soleil dans les nuages - Océan, Normandy, de Gustave Le Grey, c. 1856-1857
Effet de soleil dans les nuages – Océan, Normandy, de Gustave Le Grey, c. 1856-1857
Untitled (from the Deserto-Modelo series), de Lucas Arruda
Untitled (from the Deserto-Modelo series), de Lucas Arruda, de 2018

Ciente deste fascínio geral ( que certamente torna-se ainda mais potente em tempos de isolamento social), a galeria americana David Zwirner reuniu, numa exposição online, obras cujo tema principal é o oceano. A impressionante seleção de artistas e obras de At Sea é intercalada por poemas e textos sobre o mar, um dos assuntos mais antigos da História da Arte. “Por milênios, os seres humanos ficaram fascinados e horrorizados em igual medida pelo mistério, eternidade e perigo dos quais o mar parece ser um espelho: às vezes enigmaticamente plácido, às vezes recortado por tempestades repentinas. Datados do século 19 até o presente, esses trabalhos diferem na mídia e na abordagem, mas juntos eles fazem perguntas sociais, políticas e ambientais que ressoam com força hoje, explica o texto inicial da exposição.

Há, ainda, deliciosas declarações dos próprios artistas ou statements de críticos de arte sobre o assunto. Entre os autores, é possível encontrar trechos escritos por Derek Walcott, Herman Melville e Matthew Arnold. 

Untitled (Sea Series), de Paul Thek, 1975
Untitled (Sea Series), de Paul Thek, 1975
No Title (Big gun pen...), de Raymond Pettibon, de 2020
No Title (Big gun pen…), de Raymond Pettibon, de 2020
Sea View, de Joseph Mallord William Turner, 1826
Sea View, de Joseph Mallord William Turner, 1826
The Poem of Sangi Takamura (Ono no Takamura), de Katsushika Hokusai, de 1835-1836
The Poem of Sangi Takamura (Ono no Takamura), de Katsushika Hokusai, de 1835-1836

Nomes como Peder Balke, Gustave Le Grey, Joseph Mallord William Turner, Lucas Arruda e Thierry De Cordier criam/criavam imagens do mar obsessivamente em busca de habilidade técnica para representar sua plasticidade e  de uma compreensão verdadeira dos efeitos visuais de luz e movimentos da água. “No meu ponto de vista, a beleza artística de uma impressão fotográfica consiste quase sempre no sacrifício de certos detalhes de maneira a produzir um efeito que às vezes atinge o sublime na arte”, afirmou Gustave Le Grey.

Rough Dawns, de Susan Hiller, de 2015
Rough Dawns, de Susan Hiller, de 2015
Untitled (Shipwreck), de Cecily Brown
Untitled (Shipwreck), de Cecily Brown, de 2017
Watercolor, de Francis Alÿs, de 2010
Watercolor, de Francis Alÿs, de 2010

Já os trabalhos de artistas Francis Alÿs, Marcel Broodthaers, Bas Jan Ader  e Tacita Dean propõem abordagens mais conceituais do mar. Em Watercolor, por exemplo, Francis Alÿs pode ser visto colhendo água em um balde silenciosamente: ele tira água da costa do Mar Negro em Trabzon, na Turquia, e depois despejando-a no Mar Vermelho, em uma praia em Aqaba, na Jordânia. Uma ação aparentemente simples, no entanto, adquire um significado simbólico mais poético e profundo, considerando as hostilidades políticas e religiosas da região, onde a liberdade de movimento e interação com os vizinhos às vezes é restrita. Do artista Bas Jan Ader a galeria apresenta a performance inacabada In Search of the Miraculous (1975) idealizada em três partes, da qual a segunda parte foi uma jornada de três meses que Bas Jan Ader tentou de Chatham, Massachusetts, até Falmouth, Inglaterra, sozinho em um veleiro de doze pés e meio chamado Ocean Wave, o menor barco a tentar atravessar o Atlântico. Dez meses depois, restos do barco de Ader foram encontrados flutuando no oceano ao largo da costa da Irlanda. Mais um entre tantos mistérios do mar!

In Search of the Miraculous , de Bas Jan Ader, de 1975
In Search of the Miraculous , de Bas Jan Ader, de 1975
Horizon Rain Filthy Weather, de Tacita Dean, de 1998
Horizon Rain Filthy Weather, de Tacita Dean, de 1998
Arctic Ocean, Nord Kapp, de Hiroshi Sugimoto, de 1989
Arctic Ocean, Nord Kapp, de Hiroshi Sugimoto, de 1989
MER DU NORD, de Thierry de Cordier, de 2011
MER DU NORD, de Thierry de Cordier, de 2011
Lepanto I, II, III, de Cy Twombly, de 1996
Lepanto I, II, III, de Cy Twombly, de 1996

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