Em 18 de outubro estreia na MUBI a segunda parte do seu “Self-portrait as a Coffee-pot“ [Autorretrato como cafeteira], série de nove trabalhos filmada durante a pandemia de Covid-19 por Kentridge em seu estúdio, que fica em Joanesburgo, na África do Sul. Mas você já conhece o artista?
William Kentridge é um artista com mais de 40 anos de carreira, que utiliza a poética da forma como um meio para revelar e explorar significados profundos. Ele define seu trabalho artístico como abrangente, criando em múltiplas linguagens como nos desenhos a carvão, gravuras, esculturas, óperas e tapeçarias.
O artista sul-africano ganhou diversos prêmios ao longo de sua carreira, como o Leão de Ouro da 51ª Bienal de Veneza, em 2005, e suas obras foram exibidas em museus importantes pelo mundo, incluindo a Pinacoteca de São Paulo, onde realizou sua primeira grande individual na América do Sul.
Tendo se formado em Estudos Políticos e Africanos pela Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, e cursado Belas Artes na Escola de Artes de Londres, Kentridge chegou a entrar na Central School of Art and Design, em Londres, na década de 1970, mas não concluiu a graduação lá. Após essa experiência, o artista voltou para seu país natal, a África do Sul, e passou a focar em outras formas de expressão artística, como o teatro e a animação, que mais tarde se tornaram centrais em sua carreira.
Isso porque Kentridge também é diretor de teatro, além de ter produzido diversas óperas. Seus trabalhos dialogam diretamente com esse universo, e um exemplo disso é a obra “I am not me, the horse is not mine” [Não sou eu, o cavalo não é meu], videoinstalação que apresentou em Inhotim em 2008 e que integra um conjunto de trabalhos desenvolvido pelo artista enquanto produzia sua versão da ópera “O nariz“, 1928, do compositor russo Dmitri Shostakovich.
“A noção de ‘fortuna’ (acaso, sorte, ou algo que está em constante construção) é parte de seu processo artístico, assim como a transitoriedade e a memória.” — Inhotim
Ele é mais reconhecido por suas animações stop motion, técnica de criar movimento a partir de sequências de imagens estáticas, onde desenha e apaga desenhos em carvão, nos mostrando que os processos criativos podem abraçar a transitoriedade da forma.
Seu primeiro vídeo, “Johannesburg, 2nd Greatest City After Paris“, lançado em 1989, faz parte da série de animações “Drawings for Projection“, que explora temas relacionados ao apartheid na África do Sul e à transformação social e política do país. Kentridge criou essas animações desenhando com carvão e filmando as alterações que fazia nos desenhos, sem nunca apagar completamente as marcas anteriores. Essa é uma reflexão a respeito da realidade fragmentada e ferida de uma sociedade marcada por um passado violento e doloroso, mas que deve estar sempre na superfície das nossas memórias.
O título “Self-portrait as a Coffee-pot“, série em que se enxerga como uma cafeteira, cuja segunda parte está para estrear no MUBI, é uma referência à personalidade peculiar e ao humor de Kentridge, que usa objetos cotidianos para construir metáforas sobre a condição humana. Criando cenas em que conversa consigo mesmo, a série foi inspirada pelos trabalhos de Charlie Chaplin e Dziga Vertov.
Reunindo animações desenhadas à mão, colagens, performances e músicas, a série nos convida a entrar na intimidade do seu estúdio, onde são ele divide seus pensamentos sobre cultura, história, política, bem como reflexões profundas sobre como vivemos e pensamos hoje, em meio às mídias massificadas.
Para marcar esse lançamento, os filmes serão exibidos em sequência durante três dias em uma intervenção imersiva na galeria Hauser & Wirth, em Nova York. Além disso, uma série de conversas, apresentadas por William Kentridge com convidados especiais, também acontecerão em cada uma das três noites, de 22 a 24 de outubro.
‘‘No fundo, esta é realmente uma série sobre o otimismo e a agência do próprio fazer. Há um otimismo inerente à atividade de pegar o pedaço de papel em branco no início e ter algo no final. Se há um argumento central que tenho para oferecer e envolver o público, seria a defesa de um otimismo de fazer.” — William Kentridge