Fernanda Feher é uma artista singular. Sua produção ocupa um lugar inusitado, um espaço limítrofe entre reprodução de imagem de matriz fotográfica, edição digital, pincelada e cor, simbolismo e referência histórica. Feher toma emprestado dos mais variados campos, de memes da internet e de pintoras icônicas como Frida Kahlo, de letterings típicos do word art e de signos pictóricos clássicos, de episódios de sua vida pessoal e de tensões políticas tão presentes que chegam a criar ruído.
A artista acumula, manipula e reverbera esses elementos em suas pinturas, desenhos e assemblages, lançando mão ainda de transfers em tecido, adesivos e stickers, figuras de emojis, apliques “decorativos” e todo e qualquer material que possa contribuir para a fabricação de uma polifonia vibrante e, por vezes, cacofônica. Feher se interessa imensamente pelo formato do retrato – seja a auto-representação, seja a reprodução da imagem do outro. Esse ponto de partida, no entanto, pode levar depois a caminhos muito distintos.
Primeiro, os personagens dessas histórias são apropriados não só da cultura de massa, mas frequentemente do círculo de família e amigos de Feher. Há uma intimidade afetiva entre retratados e pintora, palpável por quem observa as obras. Depois, o ampliado vocabulário visual empregado nas composições (que de imediato impactam pelo furor) vai ganhando segundos e terceiros significados e, assim, as simbologias míticas e oníricas que se afastam da esfera íntima nos aproximam de um universo paralelo de ficção e imprevisibilidade.
Por outro lado, há um momento de pausa na contemplação de seus trabalhos que nos permite entrever, atraídos por algum indício sutil captado entre as figuras agitadas, a construção de outras narrativas poéticas que motivam sua produção. Há por detrás de sua produção não apenas a vivência particular, os delirantes protagonistas e os ícones pop, mas também uma potente reflexão política e social sensível às questões contemporâneas de gênero, violência, pertença, liberdade, raça, sobrevivência e futuro.
Fernanda Feher atualmente vive e trabalha em Lisboa, Portugal. Ela foi aluna da Art Students League de Nova York, e graduou-se em Belas Artes pelo Pratt Institute. Participou de diversas exposições, incluindo “Flameproof”, 2013, coletiva na Park Ave Gagosian space, Nova York; “While You were Sleeping”, 2015, Fine and Raw Chocolate Factory, Nova York, com curadoria de Janaina Tschape; “Womankind”, 2016, exposição online no Collectionair, com curadoria de Rita Almeida Freitas; e “Gardening at Night”, 2016, individual na Lazy Susan Gallery, Nova York, com curadoria de Gisela Gueiros.