A exposição carrega o nome da série – “Fauna Mix”, e inaugura quatro tapeçarias que aludem à aura de exotismo que envolve secularmente a fauna brasileira, incluindo a representação de animais peçonhentos, insetos daninhos, peixes, mamíferos e pássaros brasileiros, juntamente com três grandes impressões digitais na mesma temática.
Não é de hoje a pesquisa da artista em torno da significação e representação da fauna brasileira ou da tapeçaria como suporte, mas dessa vez ela traz inaugura a mostra com obras quase inteiramente inéditas, com exceção de “Selvagem” (2021) que foi exibida ao público em Miami em dezembro do ano passado.
A inauguração dessas obras no espaço da Galeria Luciana Brito não poderia ter sido mais assertiva, ao entrar você percorre todo o espaço verde dos jardins da galeria até chegar à última sala onde se encontra a mostra de Silveira. A beleza da atmosfera do espaço expositivo límpido se contrastam estampas das tapeçarias que sobrepõem caoticamente as figurações pé de galinha, garras, bicos e caudas.
A produção manual dessas peças contam com três tempos: primeiro é realizado digitalmente um desenho feito pela artista, que investigou diversas fontes e se apropriou de registros de animais, para reunir um repertório variado de figuras; depois essas figuras são acumuladas digitalmente de maneira desordenada, sem uma preocupação com a relação de escala entre elas; e por fim são tecidas em lã e se destacam em contraste com as cores vivas em degradê do fundo.
Desde a série “Gone Wild”(1996), onde pegadas de coiotes tomaram as paredes do hall de entrada do Museum of Contemporary Art de San Diego (EUA), Silveira tem investido em narrativas gráficas que implicam uma espécie de animalização dos espaços arquitetônicos, passando por “Tropel” (1998), apresentado na 28a Bienal de São Paulo, e “Mundus Admirabilis” (2007), dentre outros, inclusive o trabalho “Bicho Gal” (2017), realizado pela artista para o espetáculo musical “Fruta Gogoia”, em homenagem aos 70 anos da cantora Gal Costa. Na ocasião, ela criou todo um imaginário de invasão de bichos para compor uma série de animações do cenário do show promovido pelo SESC-SP, com destaque para a cabeleira da cantora, imagem que abria o espetáculo. Para a artista, esse foi o trabalho que mais se aproximou das possíveis interpretações de exotismo que sempre estiveram associadas à nossa fauna. Daí também vem a ideia de trazer o elemento da tapeçaria para esse universo, estabelecendo uma relação paradoxal com as tão tradicionais tapeçarias históricas da Europa, peças nobres de decoração, geralmente símbolos de poder de autoridades da monarquia e do clero, especialmente as confeccionadas nos Países Baixos, nos séculos XVI e XVII.
Vale destacar também que, recentemente, foi inaugurado também a série de tapetes “Tropicals”, executada sob medida para o lobby do hotel Rosewood no projeto Cidade Matarazzo, com imagens paródicas dos bichos brasileiros. E simultaneamente à “Fauna Mix”, apresenta ainda “Outros Paradoxos”, mostra retrospectiva que acontece no Museu de Arte Contemporânea MAC-USP, “Touch”, instalação de grandes dimensões na recém-inaugurada Galeria Hugo França, em Trancoso (BA), e exposição individual da Galeria Bolsa de Arte, em São Paulo.
Abertura: 12 de fevereiro, das 14h às 18h
Visitação até 19 de março de 2022