Fundado no Rio de Janeiro em 1944, o Teatro Experimental do Negro, idealizado por Abdias Nascimento, tinha como propósito central reivindicar a inclusão de pessoas negras no teatro da época. Mais do que uma luta segmentada, a cia usava o teatro como espaço de poder e foi pioneira em organizar, por exemplo, cursos de alfabetização, frentes trabalhistas e até concursos de beleza que enalteciam a cultura negra em uma sociedade profundamente racista, pautada ainda pelo mito da “democracia racial”. Apesar de ter fechado em 1961, por causa do exílio de Nascimento, o reflexo das ações, articulações e batalhas no TEN podem ser sentido até hoje. O projeto foi o ponto de partida para os curadores Keyna Eleison e Victor Gorgulho começarem discussões ligadas à raça, identidade e corpo. O resultado? Idealizaram a coletiva Escrito no Corpo, na Carpintaria, mesclando trabalhos de artistas consagrados e jovens promissores que dialogam com o acervo foto do cia.
“Se a construção racista rasgou o mundo em dois capítulos, busquemos suturas possíveis para a escrita da história e de estórias. Narrativas outras, habitadas por vencedores insuspeitados, por imperadores destituídos e bustos desfigurados”, exclamam os curadores.
Vale destacar as foto-performances de nomes que vêm ganhando destaque no mercado – como Ana Beatriz Almeida, Castiel Vitorino Brasileiro e Carla Santana – e que, por meio de diferentes abordagens, criam obras que partilham a ideia de uma escrita de si através do ato performativo. O bailarino Iagor Peres também se detaca: não por usar o próprio corpo para propir um debate sobre identidade e raça, mas ao misturar de matérias orgânicas e sintéticas, criando uma espécie de pele própria que se esgarça pelo espaço.
O vídeo aparece como registro de gestos performáticos em Narciso no mijo, de Rodrigo Cass, e Devolta, em que a artista Diambe coreografa um círculo de fogo ao redor da estátua de D. Pedro I, na Praça Tiradentes, Rio de Janeiro. Herbert de Paz problematiza o imaginário colonial ao preencher uma silhueta humana com imagens retiradas da revista História do Brasil editada pela Biblioteca Nacional e Armando Andrade Tudela cria uma escultura de gesso que evoca a imagem de uma “cabeça” desfigurada em processo de desconstrução.
Escrito no Corpo
Data: De 7 Novembro 2020 – 6 Fevereiro 2021
Local: Carpintaria
Endereço: Rua Jardim Botânico 971, Rio de Janeiro