Uma das exposições mais aguardadas pelo público inaugurou, finalmente, esta semana em Boston depois de ter sido cancelada às vésperas da inauguração e adiada por quase dois anos.
Ao fazer uma revisão das imagens e instalações que fariam parte da exposição das obras de Philip Guston marcada para o início do segundo semestre de 2020, Kaywin Feldman, diretora da National Gallery, em Washington, sentiu-se perturbada. Como os cartuns vestindo capuzes brancos inspirados nas tradicionais vestes da Ku Klux Klan de Guston seriam interpretados pelo público? Esses controversos personagens do artista eram, ao contrário do que se poderia imaginar à primeira vista, a forma por ele explorada de tecer críticas ao racismo e às intolerâncias do grupo.
A mostra já havia sido postergada em função da Pandemia e Feldman achou que não seria inteligente inaugurar a exposição sem contextualizar as obras e explicar o ponto de vista do artista. Ainda mais porque Guston era um artista branco, canadense e de origem judaica; os curadores e diretores da National Gallery eram brancos e nenhuma pessoa negra havia opinado, de lugar de fala apropriado, sobre as obras e a exposição. Para agravar a situação, a inauguração da exposição coincidia com as calorosas – e indiscutíveis – manifestações online do movimento Black Lives Matter.
Assim sendo, para evitar a repetição de algumas “saias-justas” que outros museus já haviam enfrentado anteriormente em situações semelhantes, a mostra foi postergada para 2024. Em resposta a esta decisão, uma carta aberta assinada por artistas como Matthew Barney, Charles Gaines, Ellen Gallagher, entre outros, dizia que os museus e instituições tinham “medo de possíveis controvérsias” e que “lhes faltava confiança na capacidade intelectual de seus visitantes”.
Daí em diante começou uma intensa discussão que colocava, de um lado, o dever de museus e galerias de expor qualquer tipo de obra de arte para gerar diálogos e discussões e estimular a liberdade artística mesmo que isto venha a incomodar ou chocar (como muitas obras chocaram no curso da história) e, de outro, a necessidade de ouvir a voz de um grupo que foi calado muitas vezes e de escutar a opinião dele sobre uma dor que a ele pertence.
É importante ressaltar também que a temática das obras de Guston nascera de uma dor que também lhe era própria. Sua família, de origem judaica, fugiu da Ucrânia em razão de ataques ao povo judeu que ocorreram no império russo, do qual a Ucrânia fazia parte, intitulados de Pogrom, palavra russa que significa “destruir violentamente”. A fase da produção artística de Guston que representa os Klansmen procura, na verdade, estabelecer uma crítica direta às organizações de perseguição a grupos específicos.
Após o adiamento, a equipe da National Gallery montou um grupo formado por outros membros que não aqueles ligados diretamente ao artista ou à exposição para repensar sobre todos os cuidados que deveriam ser tomados para que a exposição fosse apresentada ao público.
Depois de quase dois anos e de uma certa pressão por parte de artistas e instituições para que o adiamento não segurasse a mostra até 2024, a exposição Philip Guston Now foi inaugurada no Museum of Fine Arts, em Boston, onde receberá o público até o dia 11 de setembro de 2022.
Serviço
Philip Guston Now
Local: Museu de Belas Artes de Boston
Endereço: 465 Huntington Ave, Boston, Estados Unidos
Data: de 1 de maio a 11 de setembro 2022
Funcionamento: de quinta a segunda, das 10h às 17h
Ingresso: grátis