Em 6 de outubro, a Millan inaugura a exposição Visita íntima, individual de Vanderlei Lopes (1973, Terra Boa, PR, Brasil), que apresenta um conjunto de esculturas em bronze, além de uma instalação sonora. A individual é apresentada em texto crítico de Heloisa Espada. Para receber a mostra, composta por pesadas esculturas de grande escala, a galeria fez uma reforma em sua sede. A nova fachada e espaço expositivo também fazem sua estreia na ocasião.
Como o título sugere, Visita íntima explora os contrastes entre espaços privados e públicos, o interdito e o ato falho e entre ordinário e extraordinário, colocando, assim, em questão a estreita relação entre criação estética e desejo. Este último ganha forma como objetos reluzentes sedutores ou como representações e sugestões eróticas nas obras em exposição.
O erotismo aparece de forma mais explícita em Espelho, um grande relevo em bronze que pesa cinco toneladas, instalado no teto do espaço expositivo. A obra apresenta uma cena onde corpos se tornam indistinguíveis em meio a um bacanal. Adornado por rocalhas, a peça faz alusão a tradição do Barroco. Sua forma ovóide e polida, remete a forma do olho e permite ao público se ver refletido ali. Aliás, Olho é o título de outra obra na exposição.
Para o artista, “Espelho surge como um fragmento de arquitetura, cuja forma e peso, faz referência ao barroco e a uma tradição que em muito tem a ver com as dualidades, tensões ou contradições que temos vivido atualmente. À maneira de uma colagem no espaço físico, como um teto de igreja ou um espelho de teto, que de tanto refletir passa a tomar a forma daquilo que reflete”.
O ponto de partida para as reflexões que permeiam a mostra Visita íntima, é apresentado de prontidão ao público já na calçada da galeria. Ali está a instalação sonora Funk-fuck-funck, que consiste na reprodução de sons que invadiam o ateliê do artista durante o período de isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19 em 2020.
São fragmentos diversos, choros, desabafos, sirenes, helicópteros e música. As ondas sonoras emitidas pela instalação se misturam ao barulho da rua Fradique Coutinho e aludem ao fluxo de informações, pessoais ou corriqueiras, que atravessa a vida de todos.
Ao traçar diálogos com a tradição escultórica pelo uso do bronze, Lopes tensiona o valor atribuído ao material e ao objeto de arte. Exemplo disso é a instalação Transbrasiliana, que é disposta no chão do espaço mimetizando resíduos como bitucas de cigarro, elásticos de cabelo, chiclete mascado e biscoito mordido. Objetos que foram estampados em bronze e pintados para que retomassem sua aparência original. Tal apresentação enfatiza o caráter indicial, quase fotográfico, de boa parte da obra de Lopes, sugerindo uma presença prévia —como o fazem também as obras Ato, Roupão e Presente.
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