Vicente do Rego Monteiro, “Bicho”, 1925 – Imagem / Divulgação
A trajetória de Vicente do Rego Monteiro, artista entre continentes, entre tempos e entre linguagens, ganha nova leitura sob a curadoria do também artista Paulo Bruscky. Após itinerar por São Paulo, a mostra chega agora ao Rio de Janeiro com núcleo documental inédito, apresentando ao público brasileiro, pela primeira vez, a dimensão visual e poética de um modernista muitas vezes deslocado dos centros hegemônicos de consagração.
A exposição “Vicentes – Monteiro: Entre Recife e Paris (1899–1970)” articula mais de 100 documentos, obras e registros que atravessam a vida e a obra de Rego Monteiro — pintor, escultor, editor e poeta — cuja atuação multifacetada se deu entre a capital pernambucana e o circuito europeu. Entre manuscritos, caligramas, pinturas, livros, cartas, fotografias e cartazes, o que emerge é uma obra que se desenha na dobra entre o arcaico e o moderno, entre o gesto ameríndio e o experimentalismo gráfico.
Com um recorte que dá ênfase à produção textual e visual do artista, Bruscky revisita uma pesquisa que teve um ponto de inflexão na mostra no Centre Georges Pompidou, em Paris, em 2017. Incorporando obras e arquivos, a exposição propõe não apenas uma retrospectiva, mas uma reinterpretação do artista enquanto figura importante da modernidade brasileira.
Entre os destaques estão as pinturas Bicho (1925) e Moderna Degolação de São João Batista, esta última gentilmente cedida pelo MAMAM – Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães. Há ainda livros de artista concebidos por Vicente antes mesmo da consolidação desse termo, discos, baralhos e um conjunto de caligramas que antecipam a estética concretista.
Vicente, que editava em Paris e imprimia em Recife, é figura emblemática de um modernismo lateral — que não se organiza pelo eixo Rio-São Paulo, mas por uma cartografia própria, onde a cerâmica marajoara, o cubismo e a estampa japonesa coexistem. Como escreve Bruscky: “foi talvez o mais arcaico e, por isso mesmo, o mais moderno entre os modernistas”. Um artista cujos gestos são inseparáveis da multiplicidade cultural do país que habitou em trânsito.
A mostra se ancora ainda no catálogo “Vicentes – Monteiro: Entre Recife e Paris (1899–1970)”, que inclui textos para a compreensão da obra do artista. Jorge Schwartz discute as interseções entre Vicente e o ideário antropofágico, enquanto Gênese Andrade analisa sua produção a partir de retratos e autorrepresentações, ampliando a leitura sobre sua atuação nas artes visuais e na poesia.
A iniciativa da Danielian Galeria, em promover a itinerância e ampliar o acesso ao acervo documental de Vicente do Rego Monteiro, inscreve-se num momento importante de revalorização das margens da modernidade. Não por acaso, é Paulo Bruscky — o mais importante artista arquivista da arte correio na América Latina — quem conduz esse gesto: um artista arquivando outro, em espiral.
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