Bruno Lyfe, “Anjos” – Divulgação
No dia 28 de maio de 2025, às 19h, a Anita Schwartz Galeria de Arte inaugura Ventar o tempo, primeira exposição individual do carioca Bruno Lyfe no espaço. A mostra reúne 12 pinturas inéditas, produzidas neste ano, em que o artista tensiona a memória como território simbólico e político, subvertendo referências da história para reescrever narrativas silenciadas. “Esse projeto busca o encontro com a autoimagem e a reescrita de nossas histórias, abrangendo um legado imagético que desejamos conjurar”, resume Lyfe.
“Bruno Lyfe destacou-se entre os mais de 700 artistas brasileiros e estrangeiros inscritos na edição 2024 do GAS, projeto realizado pela galeria com a intenção de promover novas vozes da arte contemporânea. Seu trabalho conquistou reconhecimento internacional, com aquisição pelo Pérez Art Museum Miami, e representa com força poética e rigor formal as narrativas periféricas brasileiras. É um artista que projeta o futuro”, afirma Anita Schwartz.
A dinâmica da memória, a pintura equestre e a azulejaria barroca portuguesa são os três eixos da atual pesquisa do artista, que pautam o conjunto de pinturas selecionado para a exposição. As obras exploram um repertório iconográfico com narrativas de vida e corpos sub-representados no decorrer de uma história da arte eurocentrada e embranquecida. “Minha obra será uma reconquista da imagem, um mecanismo de recomposição que promove paridade e reconhecimento identitário, abrangendo diversos fenótipos e dando voz a histórias que precisam ser contadas”, afirma.
“O Bruno tem uma maneira muito particular de produzir e pintar, que dialoga profundamente com sua geração, com o momento político nas artes visuais e com artistas que vieram antes dele e ajudaram a constituir o que entendemos como história da arte brasileira. É uma geração comprometida com a revisão das narrativas históricas”, comenta a pesquisadora, artista e professora Lorraine Mendes, atual curadora da Pinacoteca de São Paulo, que assina o texto crítico da exposição.
Aos 34 anos, Bruno Lyfe desenvolve uma produção marcada pelo uso expressivo da cor e pela construção de composições densas e fragmentadas. Em suas pinturas, camadas de tinta e imagens sobrepostas criam uma espécie de colagem – resultado de um processo criativo que parte de uma intensa coleta de referências visuais, especialmente de um arquivo pessoal de fotografias do cotidiano. “Gosto de montar as imagens como quem organiza fragmentos de memória e realidade”, afirma o artista. “O dia a dia no ateliê é muito sobre experimentar, ajustar e escutar o que a pintura pede.
É onde consigo, de forma concentrada, transformar vivências em pintura”. Essas vivências aparecem com força na obra de Lyfe, nascido e criado em Ramos, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Elementos presentes no cotidiano do subúrbio carioca — como caixas d’água, cadeiras de plástico e cobogós (tijolos vazados) — ganham protagonismo como símbolos de uma cultura visual frequentemente marginalizada. A valorização da estética periférica também se manifesta na paleta vibrante de suas telas, influenciada pelo grafite, linguagem que marcou o seu início nas artes, em 2009, e funcionou como primeira escola. Mais tarde, Lyfe aprofundou sua formação acadêmica em pintura na Escola de Belas Artes da UFRJ e no Parque Lage, ampliando seu repertório técnico e conceitual, e consolidando uma linguagem capaz de transitar pelo circuito institucional e pelo mercado de arte.
Ventar o tempo amplia o seu percurso ao reunir 12 trabalhos que reafirmam sua pintura como instrumento de disputa simbólica no campo da história da arte. Ao incorporar referências como o gênero equestre e os azulejos barrocos portugueses — ícones da tradição colonial — o artista desloca símbolos de poder para novas leituras.
“Subverter essas referências é ressignificar símbolos e reivindicar espaços para narrativas que sempre existiram, mas foram historicamente silenciadas”, afirma. Entre os destaques da exposição está a obra Em silêncio sentindo o que não foi dito (180 x 135 cm), inspirada na estátua equestre de D. Pedro I, instalada na Praça Tiradentes, no centro do Rio. Primeiro monumento público do país, foi erguido em um momento de crise do Império como tentativa de reafirmação de poder. O que chama a atenção de Lyfe, no entanto, não é a figura central, mas os elementos quase invisíveis da base: alegorias dos povos originários associadas aos principais rios do Brasil, que seguem à margem da narrativa oficial.
“Essa pintura tem um significado especial para mim, porque sintetiza bem o que essa mostra representa — especialmente a reflexão sobre a dinâmica da memória”, afirma o artista. “Ao trazer essas figuras indígenas para o centro da cena, busquei deslocar o foco da narrativa de poder e questionar como certos corpos e histórias são relegados ao plano de fundo. É uma obra sobre reverter hierarquias visuais e pensar quem são os verdadeiros protagonistas quando falamos de território e memória”.
Esse gesto de inversão aparece também em Cavalgar contra a história para não sumir com ela (220×160 cm) e Eu sou a volta por cima (177×135 cm), em que meninos negros montados a cavalo ocupam o lugar antes reservado a heróis da história oficial. Nos trabalhos Ponte entre o chão e o céu (180×180 cm), A margem não alcança o que salta (250x180cm), Seguimos brincando (180×135 cm) e no díptico Anjos e dança (180 x 180 cm, executado em acrílica e óleo sobre madeira recortada), os corpos infantis dançam, brincam e, eventualmente, voam. O movimento dos corpos também está presente na obra Estamos aqui, como quem guarda o que ainda resta (180×135 cm), em que mulheres em trajes de baiana avançam no mar, em direção às caravelas portuguesas.
Sob os ecos da repercussão gerada pela integração da obra da série Look Mom, I Can Fly ao projeto arquitetônico da casa da cantora Anitta, Ventar o tempo marca um desdobramento relevante na carreira de Lyfe. “É um momento importante, pois representa uma nova etapa na minha trajetória, com a oportunidade de apresentar um corpo de obras mais amplo e consolidado”, comentou o artista em entrevista à Casa Vogue, em fevereiro deste ano.
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