Vista da instalação, “Ugo Rondinone, the rainbow body”, Sadie Coles HQ, Kingly Street, 2025 © Ugo Rondinone. Cortesia do artista e Sadie Coles HQ, Londres. Foto: Katie Morrison
A mais recente exposição de Ugo Rondinone na Sadie Coles HQ, intitulada the rainbow body, apresenta uma série de esculturas figurativas em meio a um ambiente fluorescente. As paredes, o piso e o teto da galeria foram revestidos em tons de arco-íris que refletem as cores das próprias esculturas, criando uma dinâmica de tensão e harmonia entre cada figura e o espaço da exposição. O conjunto também inclui esculturas em bronze de velas, que reforçam o tema central do tempo suspenso.
Combinando um brilho transcendental com uma atmosfera de introspecção, the rainbow body retoma alguns dos temas fundamentais da prática de Rondinone: o jogo entre parte e todo, e a relação entre o instante presente e o tempo cósmico. As figuras policromáticas — espalhadas pelo chão da galeria principal — têm origem na sua série de nus de 2010, um conjunto de quatorze moldes de dançarinos sentados ou agachados, montados a partir de pequenas seções de cera (na série original, cera transparente era misturada com terra proveniente dos sete continentes). Nus, exceto pelas coberturas de cabeça, os dançarinos são capturados em momentos de repouso, de olhos fechados. As junções entre as partes dos corpos são deixadas visíveis, numa subversão intencional do realismo das esculturas.
A série nude (rainbow) representa uma evolução dessas esculturas anteriores. Enquanto os nus de 2010 estavam ligados simbolicamente à terra, a coloração prismática dos novos trabalhos sugere um estado de transfiguração — o corpo físico se dissolvendo em luz. Essa transformação faz referência direta ao conceito budista de “corpo arco-íris”, associado ao mais alto grau de realização espiritual, no qual os elementos do corpo material se transformam nas luzes do espectro antes de se dissiparem completamente em luz pura.
Os tons do arco-íris integram as figuras a um sistema imersivo, funcionando como uma “ponte entre tudo e todos”, nas palavras de Rondinone, e fazem da galeria um palco — um espaço de possibilidades. Ao mesmo tempo, cada figura carrega uma dimensão profundamente interior, transmitindo uma presença psicológica singular. Segundo o artista, os dançarinos são “passivos, simplesmente sendo, sem qualquer atividade ou julgamento consciente.” O tempo histórico colapsa no momento presente, em ressonância com toda a prática de Rondinone — seja em suas pinturas de nasceres do sol, em seus moldes em tamanho real de oliveiras, ou no grupo de esculturas em trompe l’oeil de palhaços adormecidos, iniciado em 2000.
Na segunda galeria, uma constelação de esculturas de velas ocupa o chão, dispostas como se fossem oferendas votivas. Assim como os dançarinos — capturados no auge da juventude e da força física —, essas velas são marcadores de tempo: objetos em processo de metamorfose, congelados, tornados estátuas, imunes à mudança. Integrando a série de longa duração do artista, intitulada still.life, que transforma objetos banais em bronze, as velas oscilam entre o cotidiano — quase cômicas em sua escala modesta — e o transcendental. O uso do bronze também sugere um jogo simbólico entre os dois núcleos da exposição: bronze, material clássico da escultura figurativa, aparece aqui nas velas; enquanto a cera, mais associada às velas, se faz presente (conceitualmente) nos corpos.
Ao final da exposição, um relógio de vitral domina o espaço, iluminando a galeria. Sem ponteiros, ele sugere que o tempo se dispersou ou se condensou em uma única totalidade. Evocando o relógio primordial que é o próprio sol, essa janela simboliza a interconexão entre natureza e humanidade, conceito que fundamenta o trabalho de Rondinone desde seus primórdios.
– James Cahill
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