A Lisson Gallery apresenta sua primeira exposição dedicada ao artista multidisciplinar Tunga (1952–2016), cujo espólio passou a ser representado pela galeria em setembro de 2024. Reconhecido internacionalmente como um dos mais importantes artistas brasileiros de sua geração, esta mostra marca o retorno da obra de Tunga a Londres desde 2018, quando o Tate Modern apresentou uma de suas performances lendárias, Xifópagas Capilares Entre Nós. Celebrado sobretudo por suas esculturas meticulosamente construídas a partir de referências à alquimia e à mitologia, Tunga chamava atenção para o potencial psicológico dos objetos tridimensionais, que começou a desenvolver nos anos 1970 utilizando materiais como correntes de ferro, telas de náilon, lâmpadas e borracha.
A exposição destaca um período fundamental de sua trajetória, no qual o artista passou a experimentar uma gama ainda mais diversa de materiais, como garrafas, cristais, portais, dentes e tripés. Se em seus primeiros trabalhos as composições geralmente envolviam um ou dois elementos — como uma trança feita com fios metálicos ou feltros unidos com cordão de algodão e pregos —, suas obras mais tardias revelam uma tendência à construção de formas mais corpóreas e densas, equilibrando fisicalidade e leveza.
Quatro séries escultóricas essenciais são apresentadas na mostra, conectadas por um par de desenhos monumentais que atravessam os espaços do andar térreo. No andar superior está a obra mais antiga da série Fração de Luz (1981–2010) — uma estrutura elegante que remete à mecânica física de uma marionete e à relação com quem a manipula. Preso a um prego preto na parede, um cordão metálico multipartido sustenta longos fios de cabelo preto. Logo abaixo está Sem título (2008), considerada peça central da exposição: uma grande instalação composta por um pesado peso de alumínio fundido suspenso ao lado de uma cortina translúcida que toca o chão. A tensão entre esses elementos reforça a ilusão presente no movimento de uma marionete, cuja vitalidade depende da ação invisível do manipulador.
Três obras da série Phanógrafo Policromático de Deposição (2004–2009) ilustram o impulso do artista por investigar como diferentes materiais podem se relacionar energeticamente ou permanecer isolados. Presos à parede, pequenos caixas de madeira se abrem de ambos os lados revelando cenas que lembram experimentos alquímicos. Forrados internamente com tecido branco em relevo, esses compartimentos guardam frascos de vidro com líquidos coloridos sustentados por armações de metal e resina. Espelhos também fazem parte dessas estruturas, intensificando a ambiguidade entre o real e o imaginado.
A série Estojo (2008–2012) é representada por duas versões. Esses pequenos recipientes de ferro, reconhecidos por Tunga como portais, comportam paisagens próprias compostas por materiais terrestres como quartzo cristalino e ferro, preenchendo cada unidade cúbica até o limite. Os ímãs, incorporados tardiamente à sua linguagem visual, se tornam aqui elementos centrais, permitindo ao artista comunicar forças invisíveis e dinâmicas de transmissão energética.
Na série mais recente apresentada, Morfológicas (2014), Tunga volta-se a representações abstratas da anatomia humana, utilizando suportes escultóricos arquetípicos como o bronze e a argila. Com formas que evocam tendências clássicas, essas obras sensuais sugerem tanto a fisicalidade do corpo quanto sua conexão com o plano terreno.