A Luisa Strina tem o prazer de apresentar, de 2 de abril a 4 de maio de 2024, Travessia, exposição individual de Alexandre da Cunha na galeria. Ao reunir quatro novas esculturas e duas peças de parede, Travessia é o resultado de um novo momento na prática do artista, tensionando as capacidades de objetos funcionais entre as esferas pública e privada e marcando um atravessamento da dualidade cultural no trabalho do artista. O texto da mostra é assinado por Luisa Duarte.
Alexandre da Cunha utiliza elementos cotidianos em suas esculturas, que normalmente não estão associados aos códigos de arte. Por meio de manipulações, cortes e junções de objetos distintos, suas obras criam novos símbolos e significados. A trajetória e a prática do artista, que vive e trabalha entre o Reino Unido e o Brasil, estão intrinsecamente relacionadas a uma dualidade de referências adotada em seu trabalho — em que a utilização dos objetos retirados do cotidiano reflete seu caráter e uso cultural. Entre a capital britânica e São Paulo, o ato de atravessar ganha um duplo sentido: o caminho entre dois continentes – dois contextos culturais, sociais e geográficos diferentes – e, com isso, o cruzamento de uma nova fronteira em sua prática. Travessia tornou-se, assim, um movimento contínuo de transformação pessoal e profissional para o artista.
Ocupando a sala 2 da galeria, a mostra apresenta obras da série Mina (2024), com quatro fontes de água verticais criadas a partir da estrutura de orelhões empilhadas, esculturas que assemelham a totens e que contemplam por volta de dois metros e meio de altura. Com marcas comerciais retiradas de suas superfícies, tais estruturas conformam uma longa composição monocromática. Sua base também é feita de concreto comumente usado na construção civil ou em projetos de paisagismo. Tudo é banhado pela água, que reflete o próprio objeto e reproduz a sonoridade do líquido quando entra em contato com a superfície da escultura.
“Gosto de pensar nos orelhões como conchas acústicas, onde várias pessoas e histórias passaram — desde ligações para familiares no interior, às declarações de amor e às discussões. Ao contrário de uma cabine telefônica, onde você entra para conversar, o orelhão representa um espaço semi privado, onde a sua fala e seu corpo são parcialmente protegidos, porém permanecem expostos e vulneráveis”, conta Da Cunha. Transformados, ainda que não reconheçamos os emblemáticos telefones públicos brasileiros na composição, o olhar preciso consegue observar a permanência dos grafismos, rachaduras e, especialmente, das marcas do tempo e do uso. Assim, os trabalhos de Alexandre da Cunha, que invariavelmente costumam apontar setas para diversos efeitos e reflexões, constituem – nas palavras do próprio artista – uma “arqueologia para o futuro”, feitos de vestígios de uma vida cotidiana que assumem outros formatos e funções.
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