“Thanateros: abstruction_img_666.gif” de Deyson Gilbert na Martins&Montero

Deyson Gilbert, Sem título, da série Thanateros, 2025. Foto: Ana Pigosso

Martins&Montero apresenta a exposição Thanateros: abstruction_img_666.gif, individual do artista Deyson Gilbert. O título entrelaça as figuras mitológicas de Tânatos e Eros, personificações da morte e do erotismo, respectivamente, num mesmo corpo conceitual. Da fusão entre essas pulsões, surge também o termo abstruction: palavra híbrida que, oriunda de uma raiz ocultista, propõe uma encruzilhada de quatro possibilidades: abstração, obstrução, construção e destruição.

Neste território, Gilbert apresenta um conjunto de esculturas que desafia o equilíbrio e o gesto invulnerado. Suas peças, de ferro, com encaixes provisórios e montagens arriscadas, expõem uma tensão física e formal. Cada uma das esculturas, aparentemente abstratas, ao se escorarem no título que recebem, ganham figuração: abandonam a mudez formal para sugerir uma imagem. Assim, coincidem no plano semântico e na atrativa elegância formal que fere o espaço.

Nas colagens, o artista revisita a tradição geométrica construtivista não pelo campo cromático, mas por meio do corpo de imagens — imagens que dilaceram, provocam, disputam o olhar. Aqui, a figuração e a abstração se enroscam num embate dialético, onde o erotismo e a violência tornam-se indiscerníveis. Ao serem trabalhadas com uma obscenidade implícita, a partir de imagens de guerra, erotismo e abstração, operam em uma estranha sedução pela repulsa.

Como possível eixo formativo da exposição, está a trinca Carne-Chumbo-Imagem, que parece funcionar como assombro dos trabalhos que compõem a exposição. Essa trinca, que aparece e reaparece como um refrão matérico, atravessa os trabalhos e organiza suas afetações. Juntos, esses elementos (carne, chumbo e imagem) organizam um mostruário dos materiais que são utilizados pelo artista.

Em outro dos trabalhos que compõe a exposição, uma galinha viva ocupa o espaço da galeria. Sua presença convoca o espectro do ritual. Participa de um exercício de experimentação que lida com instruções e jogos de imaginação. Carne, chumbo e imagem reaparecem aqui não como objetos ou materiais, mas como forças de evocação.

A exposição Thanateros: abstruction_img_666.gif mostra sua verve construtivista e, na intimidade entre arte e crítica, desenvolve a ideia da abstração como formadora de valores de nossa sociedade contemporânea, em especial no que se refere ao amor e ódio nos tempos da húbris digital. Desejo e finitude se encontram não como opostos, mas como aliados. A exposição se constrói como um campo de operações simbólicas, onde erotismo e morte, linguagem e matéria, se confrontam e se contaminam.