Versatilidade artística e experiência cotidiana se encontram, a partir da perspectiva de uma subjetividade negra na exposição “Viver até o fim o que me cabe! – Sidney Amaral: uma aproximação”, com curadoria de Claudinei Roberto da Silva. A mostra, que esteve no Sesc Jundiaí em 2021, chega ao Sesc Belenzinho para promover e ampliar o diálogo do público com o trabalho de Sidney Amaral (1973 – 2017), artista contemporâneo que faleceu de forma precoce, mas deixou um legado que alarga a reflexão sobre a diáspora africana. Por meio de técnicas e materiais variados (como desenhos a grafite, pinturas com acrílica, aquarelas e esculturas), Sidney aponta para a aspereza de uma sociedade marcada pelo trauma da escravidão, do genocídio das populações negras e do racismo estrutural. Seu amplo repertório plástico é estratégico para a proposição de tensões, como se observa em “O pão nosso” (2014), escultura feita de bronze que conjuga o pesado e o leve, a banalidade e a nobreza. Um dos caminhos bastante explorados pelo artista é o do autorretrato, que, em seu projeto, aciona uma identificação simbólica com os interlocutores negros, tradicionalmente sub-representados nas artes e historicamente pintados em posição subalterna, como se observa na produção do século 19. Ao colocar o próprio corpo no centro de suas investigações – um corpo negro –, o artista faz frente à violência racial que assombra o país e disputa um espaço que foi negado também no sistema de arte aos escravizados e seus descendentes. O corpo se apresenta ainda a partir de seus fragmentos. Na série de desenhos a grafite intitulada “Mãos” (2009), Sidney representa o manuseio de pequenos objetos que remetem a um conjunto de habilidades e vivências, proporcionando uma conexão entre a parte, uma espécie de close, e o todo, o contexto do qual esse close deriva. Sobre o modo como o compromisso crítico se alia ao estético, o curador Claudinei Roberto da Silva comenta: “Sidney Amaral não esteve alheio às urgentes demandas do nosso tempo nem se omitiu diante dos problemas que mais diretamente afetam as ‘maiorias minorizadas’ do Brasil, notadamente negras e negros assediados pelo histórico e estrutural racismo, porém o grau de engajamento do artista com essas questões prementes não ofuscou ou tornou secundário seu compromisso com a arte à qual se dedicou com afinco durante sua curta existência”. A exposição, composta de 74 obras, traz também alguns estudos e cadernos de desenho que possibilitam entrever o processo de criação do paulistano. Com o objetivo de estreitar a vinculação entre os visitantes e o trabalho desse artista, a expografia optou por uma distribuição com bom espaçamento entre as obras, para que o público tenha intervalos de respiro e reflexão diante da potência de Sidney Amaral. Além disso, durante todo o período expositivo, o Sesc também oferece atividades paralelas, ações formativas e visitação guiada.
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