A partir de 10 de agosto a Galeria Contempo recebe, em São Paulo, a exposição “Sérgio Guerini: Polifonias”, onde ficará em cartaz até 24 de agosto. As 23 obras que integram esta mostra, acompanhadas do olhar crítico de Denise Mattar e organização de Matheus Drumond, é a primeira individual desse artista paulista após um intervalo de 10 anos (a última individual foi em 2014 na Monica Filgueira Galeria de Arte) e a primeira dele neste espaço cultural da capital paulista. Pelo conjunto reunido, celebra a trajetória do pintor e aquarelista com trabalhos produzidos na última década.
Desde “Aquarelas e outras imagens”, exposição apresentada em 2012 no Baukurs Cultural, centro de cultura alemã no Rio de Janeiro, Guerini vem continuamente produzindo e reelaborando seu fazer pictórico. A indagação que realiza junto à pintura, por ser alentada e minuciosa, ganha fôlego junto ao tempo e, sobretudo, junto à duração do embate que ele permite. “Esta mostra é uma oportunidade de acompanhar minha produção mais recente e, ainda, conferir alguns trabalhos inéditos produzidos desde minha última individual”, adianta Guerini.
Sobre a realização desta mostra, Monica Felmanas, diretora da galeria, afirma: “Trata-se de um aquarelista e pintor com larga experiência. Para além de sua proximidade com artistas de grande importância, como Luiz Sacilotto e Sérgio Fingermann, está em atividade ininterrupta desde a década de 1980. Embora seu trabalho não lide com as reviravoltas ou modismos comuns ao campo artístico, parece interessante lançar um olhar renovado para sua constância artística junto à aquarela e à pintura”, afirma.
Em relação à exposição, que poderá ser vista no próximo mês, ela endossa que é uma oportunidade de mostrar o que ele vem produzindo e produziu na última década. Além das pinturas e aquarelas, irá incluir entre o conjunto exibido algumas fotografias e cadernos do artista. Desse modo, o que se pretende, complementa, é apresentar a globalidade de sua prática – que inclui até mesmo estudos e esboços. “Nos parece muito curioso que sendo o fotógrafo que é, responsável pela fotografia documental de inúmeros artistas e galerias, ainda se empenhe tanto num trabalho artístico consistente e dedicado. E, sobretudo, que consiga preservar uma linguagem tão pessoal e tocante”, avalia.
Quanto ao nome da mostra, Denise Matar contextualiza: “Polifonia é o nome dado a um estilo de música que surgiu na Idade Média. É uma técnica compositiva que produz uma textura sonora na qual duas ou mais vozes se desenvolvem, preservando um caráter melódico e rítmico. O termo é introduzido aqui para definir a obra de Guerini, reiterando o caráter musical que permeia seu trabalho, sua oposição à ideia do rigor absoluto e a consequente escolha de uma linguagem mutável, na qual ele une cor, textura e forma, preservando o caráter individual dessas ‘vozes’”.
Ainda de acordo com Denise, na obra pictórica de Guerini convivem linhas melódicas que se cruzam constantemente, permitindo o surgimento de estruturas que podem ser totalmente independentes ou complementares. A corporeidade da cor, segundo ela, abre caminho para o mistério e a dúvida a partir de uma infinidade de superposições. São camadas sensoriais, densas, rugosas, porosas, aéreas ou fluidas que convocam a reflexão. Em seu atual momento artístico, Guerini, segundo Denise, propõe construções plásticas estruturadas no vocabulário geométrico, mas uma geometria sensível, bem distante do rigor concretista. A questão poética de Guerini não é a forma em si, mas a construção dos campos de cor e eles se apresentam matéricos, como pele e carne, dentro de um mesmo corpo. Quase não há cores contrastantes em uma mesma obra e, sim, a inserção de diferentes intensidades cromáticas.
Em seu trabalho, diz a curadora, embora o artista trabalhe no campo da abstração, alguns vestígios da realidade surgem aqui e ali. São, segundo ela, insinuações de ambientes arquitetônicos, espaços urbanos, memórias de imagens fotografadas que persistem no arranjo de formas, nas transparências, opacidades e luminosidades. “Sua obra é meditativa, plena de harmonia e dúvidas, instaurando um universo de contraposições entre o denso e o tênue, o eterno e o impermanente, o luminoso e o sombrio, criando uma sutil polifonia entre geometria, cor e emoção”, conclui.
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