A Galeria Luisa Strina apresenta a primeira exposição de Luisa Matsushita na Sala 2 de seu espaço expositivo. A mostra reúne um conjunto de pinturas inéditas em diferentes formatos caracterizadas por um cromatismo singular que resulta dos inúmeros estudos em papel que precedem à realização de suas obras. A transposição das cores de seus estudos para a tela envolve, necessariamente um processo laborioso de tentativa e erro, durante o qual a artista chega a um equilíbrio entre transparência, tonalidade e vibração que implica na aplicação de dezenas de camadas de tinta a óleo para ser alcançado.
Outro atributo marcante dessas pinturas é a presença de formas sintéticas, orgânicas ou ortogonais, que se estruturam em composições abstratas inspiradas por elementos banais do cotidiano. Guarda-roupa (2023), Todo mundo gosta de uma graminha (2023) ou Escada da Zezé (2023), para citar apenas alguns de seus títulos, evocam imagens ou narrativas de cunho subjetivo, embora suas pinturas permaneçam decididamente livres de interpretações unívocas. É justamente na capacidade de enxergar algo notável em acontecimentos banais e de transformá-los em imagens ao mesmo tempo pulsantes, elegantes, ambíguas e cheias de humor que reside a singularidade da obra de Luísa Matsushita.
A exposição é acompanhada por um ensaio da escritora Duda Porto de Souza, amiga de longa data de Matsushita, que acompanha sua trajetória desde a primeira década dos anos 2000, quando a artista integrou a banda Cansei de Ser Sexy (CSS) até suas experiências mais recentes com a bioconstrução no estado de Santa Catarina durante a pandemia do COVID-19. Assim como os artistas da vanguarda do séc. XX que, estimulados pela filosofia da Bauhaus, atuavam em várias disciplinas, Duda Porto de Souza descreve Luisa Matsushita do seguinte modo: Autodidata em múltiplas frentes, a experiência prática continua sendo a maneira mais vigorosa que encontrou para liberar sua vida emocional interior.
“Tudo que eu sei, aprendi fazendo. Fiz música assim, eu canto assim, construí uma casa e fiz móveis para o seu interior assim, consegui comer o que plantei. É assim que pinto, consigo descobrir formas de fazer, pois eu sou uma artista.” Após explorar estudos sobre bioconstrução, permacultura, agrofloresta e sementes crioulas, Luísa construiu sua própria casa de baixo impacto no meio ambiente. Ao longo dos anos, somou saberes à experiência prática, numa busca que culminou no léxico emocional e nos códigos impressos nas pinturas desta mostra, onde tudo está relacionado à morada e à continuidade da força criativa no mundo.
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