O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta a Sala de Vídeo: Manauara Clandestina com cinco vídeos, entre os quais dois foram recentemente exibidos na 60ª Bienal de Veneza. A instalação audiovisual da artista Manauara Clandestina (Manaus, AM, 1992), em cartaz a partir do dia 13 de dezembro, transita por temas como a identidade travesti, relações de intimidade, moda e fluxos migratórios.
A artista, que expressa a origem amazonense e a vivência clandestina em seu próprio nome, enaltece em seus trabalhos a criatividade da comunidade travesti do Sul Global, rompendo com a normatividade que, frequentemente, restringe o grupo à representação de suas vulnerabilidades. “A travesti tem tudo a ver com a moda, com o cinema. Desejo fazer mais cinema e ver mais travestis donas de si em seus papéis, não apenas como atrizes, mas também como diretoras, fotógrafas, que criam nosso imaginário sobre o Brasil e nosso cotidiano”, afirma Manauara.
Os diferentes trabalhos apresentados na sala de vídeo exploram o conceito de upcycling. Embora originado na moda como uma resposta ao fast fashion, o upcycling – processo de reaproveitamento de objetos, peças de roupa e outros materiais para criar algo novo – está presente na obra de Manauara tanto nas vestimentas quanto na edição de seus vídeos, os quais combinam imagens captadas pela artista com outras apropriadas de diferentes lugares. Trechos icônicos, como o registro do homem pisando na Lua pela primeira vez, são justapostos a cenas cotidianas da artista, criando um diálogo visual que reinventa o imaginário a respeito de travestis na esfera social.
Com curadoria de Leandro Muniz, curador assistente, MASP, a mostra reúne trabalhos que tratam de questões como a biografia da artista, a travestilidade, a crise climática, a condição de vida dos trabalhadores braçais, as religiões, as desigualdades econômicas, a violência, a intimidade e o afeto, entre outras, propondo conexões entre esses diversos temas de forma narrativa e, ao mesmo tempo, fragmentada.
O vídeo Corredor 1 (2020) conta com a participação do irmão da artista e reflete sobre o espaço de moradia no contexto da migração. A obra revela uma “casa-cápsula”, isto é, um ambiente de convívio restrito, mais próximo de um dormitório que de uma casa, concebido para pessoas com jornadas de trabalho intensas, que dispõem de pouco tempo para usufruir do lar.
Trazendo à tona a realidade de trabalhadores uniformizados no espaço urbano, Reposição 2 e Reposição 3 (2020), são vídeos captados com a câmera de um celular que registram o cotidiano urbano da cidade de São Paulo.
Building (2021–2024) marca a primeira residência artística de Manauara fora do Brasil, realizada na Delfina Foundation, em Londres. No filme, a artista reconcilia-se com seu pai ao retratar sua rotina de trabalho como pastor missionário e suas peregrinações. O vídeo mistura depoimentos pessoais e imagens de um prédio em colapso, sugerindo tanto a ideia de “edifício”, proposta pelo título em inglês, quanto a de uma formação em processo, posto que também é o verbo “construir” no gerúndio.
Em Migranta (2021), Manauara escreveu em uniformes de trabalho fluorescentes a expressão “soy bienvenida” e registrou imagens de amigos desfilando com a vestimenta por Barcelona. A obra traz ao público a presença de corpos dissidentes e imigrantes que sofrem violências no espaço público e em países estrangeiros.
Manauara Clandestina encerra a programação anual da sala de vídeo no contexto do ciclo de Histórias LGBTQIA+ no MASP. Ao longo do ano, além das obras da artista, foram apresentados trabalhos de Masi Mamani/Bartolina Xixa, Tourmaline, Ventura Profana e Kang Seung Lee.
© 2024 Artequeacontece Vendas, Divulgação e Eventos Artísticos Ltda.
CNPJ 29.793.747/0001-26 | I.E. 119.097.190.118 | C.C.M. 5.907.185-0
Desenvolvido por heyo.com.br