Duas exposições dividem o espaço da galeria na Carpintaria, Rio de Janeiro. Robert Mapplethorpe: Mais que um rosto reúne obras da segunda metade dos anos 1970 aos anos 1980, aproximando temas presentes nas fotografias de Mapplethorpe e no romance japonês Confissões de uma máscara (1949), de Yukio Mishima, em que um personagem semi-autobiográfico tenta compreender sua homossexualidade no Japão do pós-guerra. A “máscara” referida no título do livro é a persona pública, espécie de prótese social, com que o autor se apresenta à sociedade patriarcal em que cresceu. As fotografias de Mapplethorpe, como o clássico de Mishima, recriam arquétipos, fetiches e personagens ligados ao desejo e as imbricações entre sexo, violência, masculinidade e submissão. O artista produz um contraste entre seus temas sadomasoquistas e eróticos e a apresentação impecável de sua obra, deixando o espectador numa posição ambígua entre fascínio e distanciamento. Da forma análoga, o narrador do livro de Mishima mascarava a sua homossexualidade sob o disfarce exterior de um fisioculturista, apaziguando uma disparidade insolúvel entre o que o Japão da época considerava fraqueza, e a dureza que a mesma sociedade legitimava. Já em Guandu, Paraguaçu, Piraquara, exposição individual de Ana Cláudia Almeida, a artista toma a pintura como eixo central de sua prática, criando abstrações que dialogam com a paisagem e com efeitos atmosféricos, expressos pela materialidade carregada de suas superfícies. Almeida desloca a superfície pictórica para o espaço tridimensional, investigando outras possibilidades de apresentação para os seus trabalhos. Sua pesquisa, direcionada à reelaboração plástica do mundo físico, levou Almeida ao assunto de sua exposição: três rios brasileiros e suas histórias, cursos e associações simbólicas. Trata-se da trinca referida no título da mostra: o Guandu, rio que fornece água potável para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro; o Paraguaçu, margeado pelas cidades de Cachoeira e São Félix, no recôncavo baiano, uma via hídrica crucial no período colonial; e o Piraquara, que corta o bairro do Realengo na Zona Oeste do Rio. Cada um tem seu lugar na economia e na cultura local, e ocupa uma posição no repertório imaginário da artista.
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