“Robert Irwin” na White Cube

Vista da obra “Untitled – Faceted”, 2021, de Robert Irwin. Cortesia White Cube

Por mais de sete décadas, o artista norte-americano Robert Irwin (1928–2023), pioneiro do movimento Light and Space, redefiniu os contornos do que a arte poderia ser. Esta exposição marca a última concebida pelo artista antes de seu falecimento aos 95 anos e reúne oito obras em fluorescente montadas na parede e uma escultura monumental realizada na última década de sua vida. Juntas, essas obras sintetizam o fascínio contínuo de Irwin pela experiência sensorial na arte.

Irwin considerava a percepção como o tema fundamental da arte e buscava eliminar as fronteiras entre a obra e seu ambiente. Referia-se à sua prática como “condicional”, ou seja, baseada em sua existência e resposta ao mundo ao redor. Iniciou sua carreira como pintor expressionista abstrato nos anos 1950, com estudos minimalistas de forma e cor, e posteriormente desenvolveu um vasto corpo de obras, incluindo instalações site-specific marcantes, que manipulam luz, espaço e o encontro do espectador com a obra de arte.

A adoção de luzes fluorescentes em sua prática nos anos 1970 revelou seu interesse por fenômenos ópticos cada vez mais sutis, embora só em 2008 essas luzes tenham se tornado um elemento central em sua produção. As oito esculturas exibidas nas galerias — compostas por colunas de tubos fluorescentes de aproximadamente 1,80 metro de altura, com camadas de filtros coloridos e faixas de fita isolante — emitem luzes com variados níveis de intensidade, às vezes desligadas completamente. Cada escultura é única, explorando relações entre cor, luz, sequência e contraste, em composições que desafiam o olhar do espectador. Como disse Irwin: “A questão é perceber que a redução foi uma redução da imagem para chegar à fisicalidade; uma redução da metáfora para alcançar a presença.”

A luz e seus efeitos ópticos permaneceram como uma obsessão para Irwin, mas em suas obras mais recentes, ele passou a listar como materiais não apenas a luz, mas também “sombra + reflexo + cor”, expandindo ainda mais os limites de sua pesquisa. Essas esculturas — que envolvem luzes apagadas, ocultas ou enfraquecidas — celebram todos esses aspectos sem hierarquia. Em Empire #4 (2014–15), por exemplo, os sete tubos verticais diminuem gradualmente de brilho até as bordas externas da escultura. A gradação luminosa e as diferenças sutis de temperatura de cor nos tubos “brancos” exigem do espectador uma percepção refinada de nuances mínimas de luz, cor e tom. Essa coreografia da luz se estende às paredes da galeria, aos reflexos em metal e vidro e às sombras lançadas pelo próprio aparato.

Os títulos das obras, que variam entre o enigmático, o codificado e o poético, reforçam o interesse de Irwin em complicar os limites da arte. Basie’s Basement (2015), por exemplo, faz referência ao álbum do músico Count Basie lançado em 1992, e sugere uma leitura sinestésica da escultura, com tubos verde, branco, cinza e “preto” acesos que produzem uma cadência quase audível. Já Sedona AZ (2015) trabalha o ritmo de outra maneira, com uma sequência simétrica de tubos fluorescentes brancos e roxos — acesos e apagados — que culmina em um amarelo vibrante no centro. O título evoca uma paisagem desértica do Arizona ao entardecer, oferecendo uma leitura figurativa da composição.

A dimensão site-responsive da prática de Irwin ganha destaque na escultura de grande escala Untitled – Faceted (2021), criada em colaboração com seu parceiro de longa data, o fabricante Jack Brogan. Essa instalação com três metros de altura é composta por seis colunas semitranslúcidas feitas de chapas de acrílico em vermelho escuro, verde e cinza frio. Assim como suas obras em fluorescente, essa escultura enfatiza a percepção e a experiência como essência da arte. Ela se transforma conforme a posição do observador: planos paralelos e perpendiculares de acrílico revelam e ocultam formas e cores internas, permitindo também vislumbres do ambiente ao redor. Embora Irwin trabalhasse com polímero acrílico desde os anos 1960, Untitled – Faceted se afirma como testemunho de suas investigações formais e como monumento à experiência humana — ao mesmo tempo sólido e evanescente, senão imaterial.