O programa da Sé inagura o ano de 2023 com a exposição Terrestres, individual de Rebecca Sharp. Guiada por um profundo respeito à natureza, a artista brasileira radicada nos Estados Unidos substitui, no novo conjunto de obras, as paisagens metafísicas criadas dentro do ateliê por paisagens naturais pintadas pela observação do meio ambiente. Rebecca Sharp começou a pintar ao ar livre em 2019. Primeiro, em andanças pelas Montanhas Rochosas, nos arredores da cidade onde vive, Boulder, no Colorado, mas também em outras regiões dos Estados Unidos (Montana, Wyoming, Novo México, Havaí) e do Brasil (Ponta Negra, no litoral do Rio de Janeiro, e Ibiúna, no interior paulista). A artista escolhe um determinado local, onde pode observar o entorno, mas também deixar-se ser observada por ele. Assim, experimenta um tipo de simbiose na qual antropomorfiza os elementos naturais, ao mesmo tempo que é tomada pelas formas da natureza, tornando-se um pouco montanha, árvore, riacho. No cerne da experiência, há a intenção de demonstrar a indissociabilidade entre natureza e cultura, separadas artificialmente pela racionalidade humana. Ela explica: “Podemos nos relacionar com a natureza de maneiras que esquecemos ou que ainda nem conseguimos imaginar. Uma floresta, um rio, uma rocha, são estruturas totalmente dinâmicas, poliamorosas, híbridas, multissexuais, generosas, não binárias e sábias, a ponto de colocar em xeque nossa compreensão superficial sobre seu inesgotável potencial de vida. Somos natureza”. Outra mudança nos trabalhos é a escala diminuta e o acabamento brilhoso, resultante da aplicação de uma camada de verniz sobre a tinta à óleo. Os procedimentos convocam quem observa a deter-se atentamente sobre a superfície das telas, descobrindo, aos poucos, seus delicados mistérios. Vegetação, formações rochosas e cursos d’água protagonizam as cenas retratadas pela artista, que explora a personalidade particular de cada elemento. A pintura ao ar livre possibilita à artista explorar, além de espaços, temporalidades incomuns em sua prática. É um tempo não-funcional, que lhe dá acesso a um entendimento que não requer a linguagem inventada pelos homens, uma comunicação interespécies de intuição e sussurros híbridos. Experimentando essa sensação como uma viagem no tempo, Sharp vivencia uma recalibração das funções vitais (respiração, batimentos cardíacos etc.) que a põe em uma uma sintonia especial, onde imagens e informações passam pelo corpo antes da consciência.
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