Único artista vivo do Grupo Frente – importante movimento artístico criado há exatos 70 anos no Rio de Janeiro, considerado o marco do movimento construtivo no Brasil –, César Oiticica inaugura, no dia 13 de novembro de 2024, a exposição “Frente a Frente”, no Paço Imperial. Com curadoria de Paulo Venancio Filho, serão apresentadas 20 obras inéditas ou que estão há muito tempo sem serem vistas pelo público, grande parte delas criadas no período em que o artista integrou o Grupo Frente, fundado por Ivan Serpa (1923-1973) em 1954 e que teve a participação de importantes nomes, como Abraham Palatnik (1928-2020), Aluísio Carvão (1920-2001), Hélio Oiticica (1937-1980), Lygia Clark (1920-1988), Lygia Pape (1927-2004), Franz Weissmann (1911-2005), Rubem Ludolf (1932-2010), entre outros. Também farão parte da exposição obras recentes, apresentando ao público um panorama da trajetória do artista.
“O Grupo Frente foi definitivo, um momento importante que levou a nossa geração, pelas mãos do Ivan Serpa, que era um intelectual, um mestre, um visionário, a trilhar o caminho, a ter um entendimento artístico diferente. Ele abriu as portas para uma visão lúdica, abstrata, moderna, transformadora. Foi um momento fundamental para mim, para todos aqueles artistas jovens que estavam ali, revolucionando, sem saber, um olhar para a arte brasileira, e especialmente para o Hélio”, afirma César Oiticica.
Os trabalhos históricos – desenhos e cartões – foram produzidos entre 1954 e 1956, no período em que o artista fez parte do Grupo Frente, no qual ingressou com apenas 16 anos, sendo o mais jovem integrante do coletivo. “Nos seus desenhos a superfície é organizada em sucessivos planos de cor, em perfeita sincronia com obras de seus colegas do Grupo, artistas já experimentados. Ali já estão presentes as motivações, diríamos hoje clássicas, dos primórdios da abstração geométrica entre nós; a exploração planar das relações entre forma e cor, rigorosas sequências, repetições e contraposições manifestando uma livre polirritmia estrutural”, afirma o curador Paulo Venancio Filho no texto que acompanha a exposição.
César participou da 2ª e da 4ª exposição do Grupo Frente e da 1ª exposição de Arte Concreta no MAM Rio, em 1955. “Nos seus desenhos e cartões, sentimos o clima de uma época e a decidida intenção construtiva de um jovem no primeiro momento de sua trajetória; a livre estruturação das articulações, combinações e relações formais que caracterizava a abstração geométrica do Grupo, antecipando o neoconcretismo”, diz o curador. O artista participou, ainda, das últimas exposições do Grupo, que ocorrem em 1956, em Resende e em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, e da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, organizada pelos concretos de São Paulo com a colaboração do grupo carioca, em dezembro de 1956 no MAM São Paulo e em fevereiro de 1957 no Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Rio de Janeiro. Após a mostra, o Grupo Frente começa a se desintegrar. Dois anos depois, alguns de seus integrantes iriam se reunir no Movimento Neoconcreto, um dos mais importantes da arte moderna brasileira.
A exposição “Frente a Frente” também trará relevos espaciais recentes do artista. Essas obras são estruturas tridimensionais geométricas, monocromáticas, com tons solares, como amarelos, vermelhos e laranjas, que se desenvolvem no espaço. Eles foram criados a partir de 2015, quando César Oiticica retomou seu trabalho artístico, após quase 50 anos trabalhando como arquiteto em Manaus, onde dirigiu a Companhia de Habitação do Amazonas (COHAB-AM), e também dedicando-se ao Projeto Hélio Oiticica, associação sem fins lucrativos criada em 1981, após a morte de seu irmão, com o objetivo de preservar, estudar e divulgar a obra do artista.
“Sessenta anos mais tarde, observamos um salto. É de se pensar e analisar como uma pulsão artística permanece viva, capaz de retornar intacta depois de longa interrupção. Intacta, mas transformada, pois percebemos nos relevos de Cesar Oiticica, realizados a partir de 2015, uma espécie de eclosão do espaço bidimensional impulsionada pela cor, tal é a energia cromática insubmissa quanto à forma, exigindo uma expansão e desdobramento no espaço – são relevos que se expandem como o disparo de uma mola”, diz Paulo Venancio Filho sobre os trabalhos recentes. “Tantas décadas depois de sua participação no Grupo Frente é uma determinação preservada que irrompe nessas obras tridimensionais dando um salto no tempo para se reencontrar com as de seus contemporâneos nos últimos momentos do neoconcretismo”, ressalta.
As obras históricas e recentes dialogam na exposição, apresentando um completo panorama da trajetória do artista. “Tanto nos trabalhos históricos quanto nos recentes, encontramos explorações plásticas neoconcretas, o seu momento histórico e os desenvolvimentos ulteriores”, afirma o curador Paulo Venancio Filho.
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