Andréa Hygino, “Feijão”, 2022, da série “Tipos de comer”. Foto: Robnei Bonifácio
O Prêmio PIPA, que realiza este ano sua 16ª edição, apresenta os Artistas Premiados de 2025: Andréa Hygino, Darks Miranda, a dupla Gabriel Haddad & Leonardo Bora, e Flávia Ventura. Entre os 73 artistas participantes, com até 15 anos de carreira, os quatro foram escolhidos pelo Conselho do PIPA por terem obras contundentes e representativas da pluralidade de poéticas e linguagens desenvolvidas no Brasil. Como parte da premiação, cada um recebe uma doação de R$25 mil e realiza uma mostra conjunta no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, de 06 de setembro a 16 de novembro, em paralelo à exposição de obras do Instituto PIPA.
A abertura no dia 06 de setembro contou com uma conversa com os premiados, conduzida por Lucrécia Vinhaes, co-fundadora do Instituto PIPA, e Luiz Camillo Osorio, curador do Instituto. No encontro, Andréa, Darks, Gabriel & Leonardo, e Flávia abordaram os trabalhos selecionados para a exposição, suas pesquisas e trajetórias.
Os quatro Artistas Premiados dividem a sala Terreiro com obras justapostas, posicionadas de forma a evidenciar as permeabilidades possíveis e aumentando sua potência como conjunto. Sem uma expografia rígida, os artistas criam juntos um espaço de forma fluida.
Para a mostra, a carioca Andréa Hygino selecionou trabalhos em diversas mídias, como fotografias, esculturas, telas e monotipias, incluindo obras inéditas. A artista, que atua também como arte-educadora e professora, se debruça sobre o ambiente da escola, os processos de aprendizado, adestramentos, disciplina e repetição, usando a desobediência escolar como metáfora para a desobediência civil. Assim, Andréa entrelaça sua prática docente à sua pesquisa artística, e levanta, em seus trabalhos, reflexões sobre a condição do ensino público no Brasil, como na série “Tipos de comer” (2022), que traz ao Paço Imperial. No trabalho fotográfico, Hygino forma as palavras “arroz”, “feijão” e “carne” sobre sua língua com macarrão de letrinhas, em referência aos alimentos da cesta básica, entrelaçando o sistema público de ensino com nutrição e fome no Brasil. Suas obras criam, ainda, relações entre o corpo de estudantes e a disciplina escolar, como nas esculturas que estarão na mostra: “Descansologia II (cadeira para Michele)” e “Ambidestra II”, de 2024, e “Saída de Emergência”, de 2022, em que cadeiras de sala de aula representam questões da vivência estudantil.
Darks Miranda, natural de Fortaleza e residente do Rio de Janeiro, além de artista, é também cineasta. Em seu trabalho, usa a montagem como procedimento e linguagem, e investiga o imaginário da ficção científica do século passado para refletir sobre o fracasso do projeto ocidental modernizante e suas noções de futuro e progresso. Na exposição, Darks apresentará 2 trabalhos em vídeo, nos quais se utiliza da superposição e do excesso, criando composições e universos visuais em um meio termo entre ficção e realidade performática. A atmosfera própria da artista também será construída com esculturas inéditas em cerâmica.
Já Flávia Ventura, artista de Belo Horizonte que vive e trabalha em São Paulo, levará às paredes do Paço 3 telas: “A festa das mulheres”, “Pequena Morte”, e Sem Título. Os trabalhos em acrílica são um recorte de sua pesquisa, que investiga o corpo como dispositivo mutável de experimentação sensível, propondo o deslocamento de discursos e protagonismos em relação à sexualidade, gênero, poder e violência. Suas telas criam inversões no regimes de visibilidade da erotização, e a artista utiliza a abstração como estratégia de ambiguidade, propondo corpos que fluem de gênero e se confundem com animais, plantas, objetos e paisagens, dissolvendo hierarquias entre essas existências.
Por fim, a dupla Gabriel Haddad e Leonardo Bora trará os fazeres e as artes do Carnaval das escolas de samba para o Paço Imperial. Gabriel é natural de Niterói (RJ) e Leonardo de Irati (PR), e ambos trabalham no Rio de Janeiro. Os multiartistas, que já desenvolveram narrativas escritas e visuais para diversas agremiações sambistas, criaram uma instalação especialmente para a mostra. O trabalho inédito costura dois desfiles: “O Rei que Bordou o Mundo” (2018), narrativa idealizada para o GRES Acadêmicos do Cubango, na Série Ouro, e o desfile de 2022 do GRES Acadêmicos do Grande Rio, “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu”, campeão do Grupo Especial. Na obra, que tem como base um globo de ferro, Gabriel e Leonardo entrelaçam início e fim, refletindo sobre os processos da criação de um desfile, com suas memórias, gambiarras, acabamentos, fios elétricos e tubos plásticos. Misturam processo e resultado, em um prática criativa que está ligada aos “restos do carnaval” – referência à prosa de Clarice Lispector. A instalação será acompanhada, ainda, de um texto dos artistas sobre o trabalho.
Sobre as poéticas apresentadas, o curador Luiz Camillo Osorio destaca que “Esta rearticulação entre pertencimento e estranhamento diante da cultura visual hegemônica mobiliza a criação de novos repertórios críticos e regimes de recepção para a arte contemporânea. Os quatro artistas premiados em 2025 evidenciam tais características”. A exposição no Paço Imperial é uma celebração dessas quatro expressões.
“Poéticas do Ruído na Coleção do Instituto PIPA”
Além de trabalhos dos quatro Premiados de 2025, o Instituto PIPA apresenta no Terreirinho, sala localizada em frente ao Terreiro, a exposição “Poéticas do Ruído na Coleção do Instituto PIPA”. A mostra tem curadoria de Alexia Carpilovsky – que integra a equipe do Prêmio desde 2019 – com supervisão de Luiz Camillo Osorio, Lucrécia Vinhaes e Carla Marins. São cerca de 19 trabalhos de artistas que fazem parte da história do Prêmio PIPA, como participantes ou vencedores de edições anteriores.
Escutar as rasuras e os vestígios. A exposição parte do ruído como instrumento que revela e que faz lembrar: algo que irrompe, que desestabiliza, criando estranhamentos. As obras costuram, remendam, recortam e escrevem por cima, nos convidando a pensar o que foi apagado e o que nunca foi escrito: uma “Sobreposição da história”, como fala a obra de Gê Viana, e “Reflorestar Nossa Gente” como anuncia a de Hal Wildson. A escrita em si também permeia a exposição como um meio de construir realidades – de criar corpo pela palavra. Aqui, para além dos materiais, os tempos estão sobrepostos.
Compõem a mostra trabalhos de Agrade Camíz, André Azevedo, Cadu, Coletivo Coletores, Denilson Baniwa, Dyana Santos, Eduardo Berliner, Fabrício Lopez, Gê Viana, Hal Wildson, Íris Helena, Luiz d’Orey, Randolpho Lamonier, Virginia de Medeiros, e Xadalu Tupã Jekupé.
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