A produção recente de relevos, objetos, pinturas e desenhos de Laura Teixeira descende diretamente das experimentações gráficas que a artista realiza, sobretudo como ilustradora, desde o começo dos anos 2000. Essas duas extensões de trabalho têm em comum, entre outras coisas, a lida com materiais da vida prática, itens que não são necessariamente artísticos, para a construção de imagens e estruturas, em geral, com simetrias de equilíbrio instável, formas curvas e elementos que se repetem.
Por exemplo, há 10 anos, Laura concebeu o livro Bolinha Branca apenas com etiquetas adesivas redondas e coloridas que, justa e sobrepostas, figuram os espaços, seres e objetos das variadas cenas da narrativa. Agora, nos trabalhos que compõem esta exposição na Galeria Pilar, a artista utiliza esmalte de unha, aplique de cabelo, pérolas falsas e outros artigos de lojas de armarinho na elaboração de trabalhos que, por sua vez, transfiguram o erótico (aludem a organismos, à botânica, à genitália humana) e criticam a relação entre beleza e perfeição.
Até certo ponto, Laura continua a “desenhar” (ou a dar formas a suas invenções) a partir de itens incomuns para essa prática. Mas, diferentemente do que ocorre, ou ocorria, com suas ilustrações, os desenhos, pinturas, relevos e objetos que ela produz em ritmo contínuo nos últimos três anos não foram pensados para acompanhar uma história, um ensaio, um artigo, nem para serem reproduzidos em papel. Essas peças agora são autônomas, estão no mundo por conta e risco próprios, a inspirar, ao mesmo tempo, certo intimismo e um tanto de aversão.
O título da exposição remete a um texto famoso do arquiteto austríaco Adolf Loos (1870-1933), Ornamento e Crime. Nesse quase manifesto, escrito em 1908, Loos relaciona a ornamentação (como a do design art nouveau) a um comportamento amoral, a um retrocesso na jornada teleológica e civilizatória que estaria em curso e na direção de uma ideia de forma pura, alcançada por segmentos da arquitetura moderna. Em formulações virulentas (e negativas), o autor associa o decorativo ao erotismo, a processos de degeneração; à criança que rabisca paredes, ao papua que se tatua.
Então, nesse sentido, sim: a despeito das significações ideologizadas, de superioridade e inferioridade, dos enunciados de Loos, o ornamento dos trabalhos de Laura Teixeira é crime, desvio – prazer ligado à transgressão e aos excessos.
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