Miguel Afa é nome predominante nos dois espaços da NONADA. Em sua primeira individual na galeria, onde foi o primeiro artista com representação e, também, tem na NONADA sua primeira galeria, apresenta O Tremor e o Terroso: Miguel Afa, sob curadoria de Igor Simões. Uma exposição em dois tempos, com um total de 40 pinturas, exibe, em Copacabana (NONADA ZS) seis telas de forma mais intimista como preparação e apresentação do segundo ato. No espaço da Penha (NONADA ZN), “uma exposição maior e com obras de grande formato que chegam a lugares novos na produção do artista”, como define Paulo Azeco, tem-se dez (10) pinturas e um políptico composto por vinte e quatro (24) trabalhos.
Como ressalta o curador, “Miguel Afa desloca seus mais recentes trabalhos para uma atmosfera da ordem do onírico. (…) Um jogo contínuo de reescrever o mundo a partir do encontro do corpo com a pintura”. Em sua dedicação incessante ao fazer, aprimorar, ascender, o artista reproduz, em tela, sua vivência diária de forma afetuosa amainando cenas duras da realidade com a qual convive. Pinceladas precisas adquiridas através da persistência de um artista autodidata determinado a “fazer a diferença”, aprimoram as técnicas utilizadas e apresentam emoção em pinturas de situações que, não corriqueiras, transmitem ‘vida real’. “Eu tento abordar as questões não objetivas, o contraponto da visão pré-estabelecida sobre nós, pretos e favelados. Abordo as relações afetivas, saberes locais e como intuitivamente cuidamos um do outro, seja no aspecto emocional ou físico”, define o artista.
Em O Tremor e o Terroso: Miguel Afa, “(…) do embate entre a natureza e a construção, surgem alguns dos trabalhos dessa mostra. A planta rompe o tijolo. Mas o que está ali em tensão não é a planta, não é o tijolo. “É o tempo”, define Igor Simões. E prossegue: ”Para alguns, poderia soar que as camadas e sobre camadas de tinta podem soar sujas, para ele não. Para um artista estudioso das histórias da arte, nada é acaso. Fabular a terra nos seus mais diferentes sentidos exigiu desse jovem artista carioca uma relação que passa pela herança da pintura nomeada ocidental, mas que se assinala como inegavelmente brasileira. Creio que, a essa altura da carreira de Afa, já não resta dúvida que estamos diante de um dos mais importantes pintores da sua geração”.
Possivelmente, estamos observando um momento em que um ciclo se encerra para permitir novos desafios e novas conquistas. Como anotado pelo curador, “Miguel é um artista que já superou a fase das ideias que querem parecer o trabalho realizado. Ele sabe que ideia é o início, mas arte é trabalho, labuta diária, busca pela tarifa certa que permite surgir a poesia. Afa assegura [ou reitera constantemente: quero ser relevante. Essa nota mental aponta para um necessário caminho de constante busca. Miguel o faz!”
Em seu agora, Miguel Afa vive um momento de relação nova com sua inventividade, seu criadouro de imagens. Os tons terrosos, mas não depressivos, destacam a beleza do menino, que mesmo com céu nublado, abaixa-se para resgatar sua pipa.
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