“O tempo e a memória” de Takashi Fukushima na Galeria Frente

Obra “Nature Morte d’après Braque”, de Takashi Fukushima – Imagem / Divulgação

Após um hiato de quase uma década sem realizar uma mostra individual, Takashi Fukushima abre “O tempo e a memória” na Galeria Frente, em 20 de setembro. Formada por 31 obras, produzidas entre 2000 e 2025, o artista, aos 75 anos, apresenta um trabalho singular e, ao mesmo tempo, maduro e atemporal, marcado pelo aprofundamento poético e pela integridade formal que caracterizam sua trajetória. A exposição é acompanhada por uma publicação exclusiva, com texto curatorial de Fábio Magalhães, que amplia a leitura dessa produção silenciosa e, ao mesmo tempo, profundamente eloquente. Gratuita, a mostra segue em cartaz até 22 de novembro.

Com relevância e singularidade no cenário da pintura contemporânea brasileira, Fukushima desenvolveu ao longo de mais de cinco décadas, uma linguagem estética peculiar, em que a tradição japonesa dialoga com a contemporaneidade e, assim, nascem composições sutis, mediativas e rigorosas. Para essa mostra, Braque e Morandi são inspirações para pinturas de naturezas-mortas. Ao mesmo tempo, o artista apresenta trabalhos gestuais e densos, nos quais cor, forma e memória se tensionam em superfícies vibrantes. Fábio completa em seu texto: “Suas telas apresentam poéticas visuais de estabilidade e de movimento, do jogo entre o perene e o transitório. Em outras palavras, o artista envolve expressões de repouso, onde o tempo parece dormir, com as de agitação, na qual o tempo se precipita e devora. Nessa abordagem de espaço e de tempo, não há fronteiras entre o real e o imaginário. Takashi elabora sua linguagem entre a figuração e a abstração, entre o literal e o metafórico.”

Outro ponto de destaque nas criações do artista é a força da natureza que, mesmo quando subjetivas, estão lá, presentes. Multiartista que é – Fukushima é pintor, gravador, desenhista e cenógrafo – tem, como menciona Magalhães, “uma expressão plástica de íntima relação com a natureza, sensível ao tempo que modifica todas as coisas. O artista estabelece poéticas de transformação em um mundo natural em permanente movimento. Preocupa-se com o tempo de memória, produto de vivências, conhecimentos e desejos, ou seja, uma noção de tempo que inexiste na própria matéria, mas que se acrescenta a ela como natureza humana.”

As obras de Takashi são um convite à contemplação, à pausa e à escuta visual. Importante salientar que, em um mundo em constante mutação, suas obras articulam movimentos antagônicos, de ordem e desordem, de imaginário e real. Os trabalhos de Fukushima, provocam uma atração ao que é inefável e faz refletir sobre lugares misteriosos, sublimes. Para Acácio Lisboa, diretor da Galeria Frente, um momento especial na história da galeria, e no cenário das artes no Brasil, promover uma exposição como essa. “Ter conosco um artista do tamanho de Takashi Fukushima em que a história e a estética estão em uníssono, é um grande orgulho e uma exposição para se tornar memorável.”