O Jornal do mundo oferta ao público visitante notícias das mais variadas partes, sejam do velho novo mudo mundo, sejam do futuro que se tornou presente, sejam das áreas onde a segregação social é geograficamente escancarada. Escancarado, não à toa, é um atributo dos mais característicos da linguagem gráfica, meio de expressão de R.Trompaz.
O gráfico em Trompaz manifesta-se em diferentes sentidos. O componente gráfico pode ser o mote para a estruturação de toda uma linguagem, um vocabulário visual imaginado e sintetizado pelo artista, não necessariamente na procura por uma identidade que, no final das contas, está mais interessada em sua transformação do que propriamente em uma conformação. O gráfico também destaca-se como um componente de intensidade da produção de Trompaz, que se realiza na criação contínua, acumulada, repetida e experimentada. O que, então, poderá abrir e ser aberto por uma investigação sobre as práticas negras da serialidade?** Um sistema de símbolos que se destacam e se consolidam quando esmiuçados escancaradamente, em cada uma das múltiplas monotipias na sala expositiva. E que, acumulados, permitem ao visitante o exercício de leitura por camadas, na decomposição e recomposição da densidade dos traços.
Aqui a matéria é a fuga da forma. Como obra poética, a obra de arte estende os questionamentos de causa materialis, o indeterminável da contemplação. O pigmento em pó com verniz acrílico sobre papel, ou então o guache com nanquim, são apenas dois dos caminhos traçados pelo artista para espacializar sua arte. A indeterminação geográfica que Trompaz escancara tem muito de uma improvisação que é ciente dos contornos do desenho e dos desdobramentos da imaginação.
Curiosamente, em meio e em paralelo ao argumento gráfico que tende a fixar a gestualidade e a expandir o traço, Trompaz também apresenta o seu inverso, ou seja, o apagamento do traço e do gesto, mais um atributo da sua investigação sobre o gráfico. A negridade (como objeto) perturba o terreno (estético) sobre o qual emerge o Eu transparente. O processo de lavagem empregado em alguns dos trabalhos permite que seu vocabulário visual venha à tona antes de desaparecer e, nesse movimento de negação – na criação de um jornal às avessas –, ele muda de cor, torna-se rosa e inverte o sinal de aparição do vocabulário visual conhecido.
Do homem das cavernas à era atômica, do Capão Redondo a Tijuana, as notícias apresentadas por R. Trompaz ao mundo informam o público sobre um jogo intrincado do desenho, em uma poética escancarada e em expansão.
André Pitol
*Os trechos em negrito são de Rizvana Bradley e Denise Ferreira da Silva, no texto “Quatro teses sobre estética”, publicado em e-flux (2021).
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