Em 2023, coincidindo com o período da 35º Bienal Internacional de São Paulo, a Gomide&Co, ao completar 10 anos, apresenta a exposição coletiva O curso do sol. Com curadoria de Yudi Rafael e consultoria de Roberto Okinaka, a mostra dá continuidade a um novo capítulo de uma série de exposições produzidas pela Gomide&Co dedicadas à discussão de temas relacionados à América Latina em paralelo a um dos maiores eventos artísticos globais. Em 2018, foi apresentada a mostra Estratégias Conceituais, cujo recorte exibia uma seleção de obras afiliadas a arte conceitual produzidas no continente sul-americano durante regimes ditatoriais. Já em 2021, foi realizada a mostra Nosso Norte é Sul, onde foi exposta uma coleção de peças têxteis ancestrais do período pré-colombiano em conversa com obras concretas, neoconcretas e contemporâneas provenientes do território latino-americano.
“O curso do sol vem ao mundo em um momento histórico no qual os movimentos diaspóricos se tornam centrais para a compreensão do nosso turbulento presente. Ao mesmo tempo em que vemos as fronteiras borradas por fluxos financeiros que desconhecem limites, os nacionalismos de cunho xenófobo se espraiam ao redor do globo, resultando em uma atualidade marcada pelo desejo regressivo de separação. Uma miríade de paisagens feitas de muros, grades, fronteiras vigiadas, engendram um corte obtuso que diz: aqui, nós, lá, os outros (…) É nesse contexto que a Gomide&Co devota especial atenção para o que as dinâmicas diaspóricas nos endereçam.” ressalta Luisa Duarte, diretora artística da galeria.
Para o título da mostra, O curso do sol, Yudi Rafael tomou emprestado o primeiro verso de um poema de Matsuo Bashō, poeta peregrino que viajava ao “sentir-se possuído pelos espíritos, sensível ao aceno dos deuses protetores das estradas”. Segundo o curador, a exposição propõe um olhar sobre a arte na diáspora japonesa por meio do trânsito como tema, contexto e estratégia de construção de trajetórias artísticas.
A exposição, com mais de 40 artistas, busca apresentar narrativas da arte na diáspora japonesa da América Latina a partir das viagens de artistas nipo-brasileiros pela região e dos diálogos culturais que marcam o abstracionismo informal, lírico e caligráfico do período do pós-guerra, expandindo-se, ainda, para outras trajetórias ligadas a vertentes artísticas modernas e contemporâneas. Para isso, a mostra se debruça sobre a produção pictórica e escultórica, com um destaque para a cerâmica, de artistas nipo-diaspóricos do Brasil, Argentina, México e Japão, além de latino-americanos cujas obras entrelaçam-se com a cultura visual japonesa a partir de referências culturais e políticas locais.
Segundo Yudi Rafael, a produção do abstracionismo informal “incorporou à arte das Américas novas referências da cultura visual do leste da Ásia, imprimindo na arte moderna brasileira um “sotaque” próprio aos imigrantes japoneses aqui radicados”. “Se Manabu Mabe, Tomie Ohtake, Flávio Shiró e Tikashi Fukushima tornaram-se aqui sua maior referência, um artista como Kazuya Sakai, na Argentina, contribuiu a seu modo para esses diálogos transnacionais”, completa.
Para Luisa Duarte, se é a existência de cada um que será modificada pelo corte diaspórico, toda possibilidade de restauro dos elos se dará coletivamente. Conforme a diretora da galeria ressalta, a história dos artistas nipo-diaspóricos por aqui foi marcada por um exemplo dessa força solidária. Esse é o caso do Seibi-Kai, conhecido como Grupo Seibi, um eixo fundamental de O curso do sol. Trata-se de uma associação artística fundada por Tomoo Handa em São Paulo, em 1935, pelo qual passaram nomes como Manabu Mabe, Tomie Ohtake e Massao Okinaka.
Assim, “O curso do sol apresenta uma narrativa nipo-diaspórica estruturada a partir de dois eixos irradiadores: um eixo vertical, estabelecido em torno de artistas que integraram as atividades associativas do Seibi-Kai e construíram um espaço de trocas e fomento da arte no meio brasileiro; e um eixo horizontal, pelo qual se esboça uma constelação diaspórica e transnacional da arte abstrata no pós-guerra. A noção de trânsito abarca aqui não só a circulação de pessoas, mas também de imagens e ideias que alimentaram a arte na região – e a exposição discute situações marcadas pela sua restrição”, conclui Rafael.
Com expografia de Anna Ferrari, a exposição reúne obras, entre as quais, dos artistas: Adriana Varejão, Akinori Nakatani, Alina Okinaka, Flávio Shiró, Ioitiro Akaba, Kazuya Sakai, Léonard Tsuguharu Foujita, León Ferrari, Luis Nishizawa, Manabu Mabe, Masayo Seta, Massao Okinaka, Megumi Yuasa, Sachiko Koshikoku, Shoko Suzuki, Soko Ishikawa, Tikashi Fukushima, Tomie Ohtake, Tomoo Handa, Ubirajara Ferreira Braga, Waichi Tsutaka, Yoshiya Takaoka, Yuji Tamaki e Yuli Yamagata.
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