Carmo Johnson Projects apresenta a exposição coletiva O corpo que transborda forma, com abertura no dia 26/08, sábado, em seu novo espaço de São Paulo. É pelo desejo em adentrar mundos por meio da pluralidade de corpos (ou corpas) que a exposição apresenta trabalhos inéditos de Kassia Borges, Kaya Agari, Sophia Pinheiro e Claudio Cretti, todos realizados no ano de 2023 especialmente para esta ocasião. O corpo que transborda forma conta com um sensível texto crítico da curadora e pesquisadora Paula Borghi, que coloca em diálogo a relação de artistas indígenas e não indígenas, da cosmovisão e da concepção ocidental sobre a vida, daquilo que é animado e daquilo que é inanimado, almeja-se transbordar o que está contido na subjetividade de cada artista.
Essas potentes combinações são traduzidas em um cruzamento estético da arte indígena contemporânea e da arte contemporânea, reunindo produções artísticas que variam em linguagens e práticas, como: a pintura, a cerâmica, e outras, traduzindo experiências corpóreas. Trata-se de perceber o corpo como assunto, como agente, como meio que gera outras formas. De modo que é possível olhar para os trabalhos e perceber o corpo em transbordamento.
Reunindo produções artísticas que estão em disposição uma à outra, a exposição gera diálogos entre Kassia Borges (Goiânia, 1962) e Sophia Pinheiro (Goiânia, 1990) que podem ser observadas sob o devir feminista. Kassia revela que o seu contato com a cerâmica se deu ainda na infância, no ato de brincar com as tradicionais bonecas Ritxoko. Para a exposição, a artista apresenta uma série de totens em cerâmica com imagens de tetas, vulvas e cobras, consequências de um fazer ritualístico que se repete em compulsão. De um ritual que é passado de geração em geração, que se dirige ao rezo das mulheres pajés. Enquanto Sophia, uma mulher branca que traz para o campo das artes, em seu sentido amplo, uma militância política que foi passada para ela por sua mãe. É possível notar uma conversação entre a obra de ambas artistas, como se suas imagem de vulvas e tetas “falassem uma mesma língua”, a das mulheres que lutam pela autonomia e direito de seus corpos.
Aproximando-se por outra via das questões que atravessam a mulheridade e o ativismo indígena, a obra de Kaya Agari (Cuiabá, 1986) se inspira nos grafismos presentes em seu povo Kurâ-Bakairi para a construção de sua poética. Os motivos geométricos e gráficos presentes em seus trabalhos atuam como uma roupagem de proteção, identidade e tradição. Realizadas em tecido de algodão tingido por ervas e pintados com jenipapo e urucum, suas pinturas vem de um canal direto entre a artista e a tradição do grafismo Kurâ-Bakairi.
Assim como os grafismos de Kaya Agari que não foram por ela idealizados, os materiais utilizados nos trabalhos de Claudio Cretti (Belém, 1964) não foram por ele inventados e tampouco manufaturados. Cachimbos, miçangas, artigos de pesca, pedaços de madeira, linhas, cordas e palhas são algumas das materialidades que sobressaem aos olhos em suas esculturas. São materiais que evocam a presença de outros corpos, outros gestos, outros tempos.
Paula Borghi é curadora e mestre em Crítica e História da Arte (UFRJ). Foi curadora adjunta da 11a Bienal do Mercosul e curadora convidada do Centro Cultural Hellerau (Alemanha) no PROJETO bRASIL. É a idealizadora do espaço Saracura e do Projecto Multiplo. As curadorias de Paula Borghi demonstram um interesse por projetos multidisciplinares, em que o trabalho artístico tem um impacto na sociedade e uma atitude política, dentro dos princípios de arte e vida.
Reconhecendo a importância e potência das práticas da arte indígena e da arte contemporânea em constante conexão, celebramos a contribuição desses artistas e da curadoria que reforça a atuação fundamental destes como figuras centrais nas reflexões sobre os eixos geográficos do território brasileiro-indígena e sua potência simbólica, poética e política.
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