“Monstração” de Rafa Bqueer no Projeto Vênus

Rafa Bqueer, Uhura Bqueer. Imagem: Divulgação

A artista Rafa Bqueer inaugura Monstração, sua segunda individual no Projeto Vênus, em São Paulo, neste sábado, 5. A exposição é acompanhada de texto crítico assinado por Renato Menezes, curador da Pinacoteca de São Paulo.

Os trabalhos de Monstração podem ser divididos em três grupos: primeiro, o que Menezes chama de obras residuais —dentes, garras, retalhos e resquícios carnavalescos. “Essas obras residuais não deixam de ser, em igual medida, mecanismos de criação de memória das práticas de sociabilidade das Themônias, coletivo paraense surgido em 2014, propondo uma abordagem suja, impura e transumana da cultura paraense”, escreve. 

O segundo conjunto, por sua vez, apresenta registros fotográficos de performances de Uhura Bqueer, alter ego da artista, nos quais a figura themonia deglute referências como a cestaria tradicional paraense e os célebres Azuleijões de Adriana Varejão até ganhar a forma monstruosa com suas garras de caranguejo.

Por fim, Bqueer traz experimentações têxteis inéditas, resultado de suas pesquisas sobre cenografias de ballrooms, de figurinos e de estandartes com sobreposições que revisitam Leda Catunda e suas pinturas moles. 

“Em Monstração, as obras de Rafa Bqueer são mobilizadas por um ‘devir-Mapinguari’. Explico-me. Há pelo menos dez anos, Bqueer elabora em seu trabalho uma fusão entre as culturas amazônicas, especialmente do Pará, onde nasceu, e os ícones carnavalescos do Rio de Janeiro, onde reside. Entre um lugar e outro, entre os contos e cantos da floresta e o samba carioca, emerge um não-lugar, um estado de transformação permanente, de metamorfose, um espaço da invenção, da quimera, onde se renova constantemente um compromisso com o irreal, com o absurdo. É lá onde se manifesta isso que chamei de ‘devir-Mapinguari’, um conceito operativo de sua produção, um dispositivo de fabulação, que borra irreversivelmente as fronteiras entre o mito e história e define o elemento contra-canônico, o criaturesco, o disforme que a constitui”, escreve Menezes.

Monstração fica em cartaz no Projeto Vênus até dia 9 de novembro, com visitação gratuita.