“Maya Weishof: Works on Paper” na LAMB Gallery

Maya Weishof, “The different mirror (The Rokeby Venus)”, 2025 – Imagem / Divulgação

A LAMB apresenta a primeira exposição individual no Reino Unido dedicada às obras em papel da artista brasileira Maya Weishof (n. 1993, Curitiba). Reunindo uma seleção de desenhos recentes, a mostra explora os mundos visuais íntimos e, ao mesmo tempo, de outra dimensão da artista curitibana, revelando os temas e imagens recorrentes que sustentam sua prática.

Para Weishof, o desenho vai muito além de um exercício preparatório. Ele é um meio plenamente autônomo, capaz de investigar ideias com a mesma intensidade vívida e riqueza cromática presentes em suas pinturas. Em toda a sua produção, o desenho funciona tanto como estrutura de ancoragem quanto como espaço de experimentação. Embora seus trabalhos em papel alimentem posteriormente sua prática pictórica, seus desenhos existem como mundos completos e autossuficientes. Figuras se sobrepõem, corpos se fundem e muitos deles projetam pequenas vinhetas pela superfície da página, permitindo ao espectador adentrar múltiplas realidades ao mesmo tempo. Weishof constrói espaços onde referências à história da arte, mitos e memórias pessoais coexistem em uma mesma superfície. Cada obra carrega uma liberdade nessa fluidez, tanto temática quanto material, dando origem a narrativas complexas e não lineares.

Nos materiais, os desenhos são tão estratificados quanto seus temas. Marcas de giz de cera e grafite se sobrepõem a vestígios de tinta a óleo retirados diretamente da paleta da artista, visíveis em impressões digitais, borrões e resíduos de cor de trabalhos em andamento, testemunhando sua prática dinâmica. Em seu ateliê, cercada por textos de história da arte e uma vasta gama de referências visuais, Weishof encontra inspiração em arquivos e fontes tão diversas quanto gravuras japonesas, pinturas barrocas e imagens feitas a partir de amigos. Esses fragmentos de fontes históricas e da vida cotidiana se encontram em seus desenhos, formando composições que flutuam entre o real e o imaginado, entre o familiar e o fantástico.

Muitos trabalhos em exibição apontam para o interesse da artista em registrar expressões de desejo e intimidade, tema intensificado pelo meio e pela sensação de vislumbre do processo e do ateliê da artista. Dormitórios se dissolvem em paisagens apocalípticas, e momentos de desejo e conexão se desdobram em cenários cósmicos que não pertencem nem ao dia nem à noite. Entre os corpos anônimos e entrelaçados, muitos remetem diretamente às cenas de shunga, gravuras eróticas japonesas, como na série From the Pillow Pictures (2025). Em outra referência a imagens históricas do desejo, Weishof reinterpreta The Toilet of Venus (The Rokeby Venus), de Diego Velázquez, em que o reflexo da deusa do amor aparece desfocado. Em seu desenho, a artista dá forma e visibilidade à figura por meio de sua própria linguagem visual.

Os desenhos de Weishof muitas vezes funcionam como colagens ou sequências de instantâneos, sobrepondo momentos dentro de um único quadro. Essa abordagem permite ao espectador adentrar seus espaços pessoais, retratando amigos em seu ateliê ou oferecendo um vislumbre de uma pintura em andamento, como no díptico The Studio (2025). Uma obra que sintetiza sua prática em desenho é Dream in 3 times (2024), na qual três caminhos narrativos distintos convivem em uma única composição. As imagens se acumulam em um ritmo que remete a manuscritos ou histórias em quadrinhos, reunindo múltiplos espaços, figuras e narrativas dentro de um único quadro.