O auroras tem o prazer de apresentar uma nova exposição de Luisa Brandelli. Ocupando dois espaços, a artista mostra um conjunto de trabalhos da sua série de miçangas, fotografias e uma peça de latão, além de um novo corpo de trabalhos pictóricos/escultóricos sobre papelão.
Existem aspectos que remetem a uma estética adolescente nessas obras, seja pelas cores fortes – quase florescentes de algumas de suas obras de miçangas – ou pelos dois autorretratos que mostram o desconforto da autossensualização da artista na transição para sua vida adulta, mas também pelos materiais que a artista coleciona e utiliza em sua obra “sem título” que remetem a esse universo. São bijuterias, penduricalhos, um iPod (que marca por si só um recorte temporal, sabe-se lá que músicas estão ali dentro) e toda sorte de coisas que poderia se achar sobre a escrivaninha do quarto de uma adolescente do início dos anos 2000. As obras operam dentro de lógicas de superficialidade, isto é, as coisas acontecem na superfície: no reflexo do vidro das fotografias muito escuras; de outra maneira, na maneira direta e achatada de “exotic juxtaposition of rich and poor”; ou ainda no preenchimento lento e constante, cheio de erro e improviso, que constitui os trabalhos de miçangas.
Há também uma pseudo-contradição entre uma tradição minimalista que a artista adota e uma profusão de detalhes – que indicam uma temporalidade alargada – detalhes estes que apontam, de novo, para uma dimensão íntima e pessoal (mesmo que muitas vezes produzida através de commodities de massa). Por fim, pode-se argumentar que existem elementos que apontam, se não para uma dimensão de classe, necessariamente para uma questão de valor e do gesto artístico. Esse gesto, nos trabalhos de Luisa, é contaminado por pequenas marcas e sujeiras do trabalho mínimo e impreciso da mão. A artista não considera que exista uma hierarquia entre materiais, nem entre procedimentos. No final das contas, o que é elevar o papelão (quiçá o mais mundano dos materiais) à obra de arte com um gesto tão simples? O toque da artista, literalmente o “pózinho do pirlimpimpim” que acumula nas dobras do papelão, é tudo que é necessário para que a condição desse material se transforme completamente. Parece um pouco carnaval. Momentaneamente o mais baixo dos baixos fantasia-se – tanto no sentido de seu vestuário quanto na conotação imaginativa, de projeção – como o mais exuberante membro da realeza. Talvez seja isso que a adolescente projeta no seu quarto enquanto escuta Destiny’s Child e organiza sua caixinha de jóias e outras bugigangas.
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