A partir de 23 de março, a Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, recebe mostra de José Bento. A instalação Caminho de Guaré apresenta três grandes gestos de José Bento, dois dos quais inéditos e feitos especificamente para ocupar o Octógono, com curadoria de Lorraine Mendes e Jochen Volz.
SOBRE A INSTALAÇÃO
Apresentados pela primeira vez, a escultura Morrotes (2024) é feita do que o artista chama de matéria desintegrada. Trata-se de madeiras de diversas espécies cujas serragens serviram para Bento apresentar massas topográficas diferentes entre si, seja no tamanho, cor ou no formato que a madeira toma ao ser partida. Sobretudo na obra Morrotes, a exposição acaba se tornando uma experiência sensorial e de lembranças. Os visitantes vão perceber nuances aromáticas das diferentes madeiras ali expostas: amarelinho, bálsamo, braúna, caixeta, itapicuru, pau-brasil, pau-pereira, peroba, roxinho e vinhático.
De qualquer local do Octógono o visitante conseguirá também vislumbrar a obra de maior altura exposta; Arco Íris (2024), também inédita é composta por feijões esculpidos de diferentes tipos de madeiras, densidades e características, sobrepostas uma a uma, que saem do chão da Pinacoteca em direção ao céu – uma ponte entre a terra e o cosmos. É um diálogo com a natureza, tão presente na obra de Bento, onde o grão é ao mesmo tempo alimento, cultura, semente e caminho. Por fim, a obra Ar (2021) traz esculturas no formato de cilindros de oxigênio, feitos de madeiras diversas em escala real. Apresentado pela primeira vez na 13ª Bienal do Mercosul em 2022, o conjunto escultórico traz a ideia de ar represado e da dificuldade de respiração em um mundo que assiste a graves e urgentes mudanças climáticas. Apesar da Bienal ter acontecido em um momento pós-pandêmico, a obra foi concebida já antes da pandemia. No entanto, sua apresentação naquele contexto ganhou mais uma camada de significado.
As obras expostas – Ar, Morrotes e Arco Íris – representam, em si, um ciclo de vida, que é a proposta de José Bento para o Octógono. O título que ele deu à exposição, é o nome pelo qual já foi conhecido justamente o local onde hoje encontra-se a Pinacoteca: O Caminho de Guaré passava pela região da Luz, é um caminho estabelecido pelos indígenas habitantes de São Paulo antes da chegada dos europeus. Esta escolha mostra como Bento procura localizar sua produção no território em que se situa. “Percorrer o Caminho de Guaré é compreender o espaço em que estamos como lugar de consciência, reconhecer a presença indígena nesse território e se entender também como parte dessa intrincada trama histórica”, afirma Lorraine Mendes, curadora da exposição.
É impossível falar de José Bento sem mencionar sua profunda ligação com a madeira, que é elemento central de seu estudo e repertório artístico desde os anos 80. Segundo Lorraine Mendes, Bento tem “uma familiaridade vital com essa matéria”. Uma característica da prática artística de José Bento é a busca por estar sempre ligado ao território, o que significa estreita relação com o local de origem de sua matéria prima e com pessoas e comunidades que têm em seu ofício a lida com a madeira. O artista constantemente reafirma seu compromisso com a natureza ao utilizar em seus trabalhos apenas madeiras legalizadas, de origem controlada. “José Bento é um artista profundamente comprometido com a forma, com método e também matéria – e tudo isso vem como veículo para a sua própria narrativa poética”, afirma Lorraine Mendes.
A instalação José Bento: Caminho de Guaré tem o patrocínio de Cescon Barrieu, na cota Prata.
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