A exposição coletiva Ainda viva, que ocupa a Galeria do Parque, propõe uma releitura da natureza-morta, gênero histórico da arte que remonta a Grécia Antiga e ao conceito de “vanitas”. A expressão, que tem origem bíblica e significa “vaidade de vaidades”, é atribuída a imagens que criticam a frivolidade humana, utilizando símbolos que representam a fragilidade da vida e que nos lembram que os bens materiais são insignificantes diante da morte.
“Se o valor simbólico das pinturas de natureza-morta está muito atrelado ao vanitas, seguindo a ideia de morte pela tradição judaico-cristãs que constitui a base do pensamento ocidental, na contramão é possível adentrar a recente História da Arte Contemporânea e perceber como este tema muitas vezes pode estar associado a outras leituras. É a isso que esta exposição se propõe”, definem as curadoras.
Tomando estas referências histórico-artísticas, a mostra gira em torno do uso de frutas in natura na arte contemporânea, “pensando a fruta como símbolo fundamental da natureza humana, permeando diversos aspectos: alimentação, erotismo, vida-morte, entre outros”, elas contam.
O ponto de partida curatorial é a obra de Estevão Silva, primeiro e único artista acadêmico brasileiro negro reconhecido em vida por sua produção pictórica de natureza-morta. “Conta-se que o artista colocava uma fruta atrás de suas telas para que o público pudesse sentir o cheiro de suas imagens. Verdade ou não, esta informação acrescenta na pintura outras camadas reflexivas, como um caráter instalativo, efêmero e de plena transformação da vida”, refletem.
A partir da “provocação que os rumores sobre a obra de Estevão Silva nos desperta”, a exposição apresenta trabalhos que contém frutas como matéria prima que se modificarão ao longo da exposição, acompanhando a passagem do tempo e a transformação da vida.
Dentre as frutas que compõem a mostra, destaca-se a melancia, símbolo da resistência palestina desde a proibição das cores de sua bandeira em 1980. Essa fruta será trocada periodicamente na entrada do espaço expositivo, como uma “alegoria da vida” e um manifesto em apoio ao povo palestino. A curadoria da exposição se posiciona abertamente em favor da causa.
Participam da exposição: Ana Linnemann (RJ) + Pat Kilgore (EUA), Bruno Faria (PE), Camila Moreira (MG), Carol Azevedo (PE), Darks Miranda (RJ), Ernesto Neto (RJ), Herbert De Paz (RJ), João Livra (SP), João Porto (RJ), Leandra Espírito Santo (RJ), Karlla Girotto (SP), Mônica Coster (SP), Nati Canto (SP), Nydia Negromonte (MG), Paulo Nazareth (MG), Xico Chaves (MG), Zé Carlos Garcia (SE) e Zé Tepedino (RJ).
Na instalação Ninho duro, realizada especialmente para o Gabinete da Casa de Cultura do Parque, o artista Rodrigo Sassi apresenta uma estrutura tridimensional que desafia o espaço arquitetônico e agrega uma nova camada de percepção ao explorar o contraste entre peso e leveza e sua edificação.
As janelas, tradicionalmente passagens para o exterior ou meramente fontes de luz, tornam-se portais para a interioridade, invertendo a função tradicional de conduzir o olhar para fora. Ninho duro convida o espectador a imergir nesse espaço e a ser habitado por ele, revelando uma “arquitetura do sensível”.
Inspirada no modernismo brasileiro, a obra de Rodrigo Sassi explora a racionalidade e as formas geométricas, mas vai além ao investigar novas possibilidades de ornamento. Com uma estética que dialoga com a arquitetura e a construção civil, Sassi ressignifica fragmentos e ruínas urbanas, utilizando materiais como concreto, madeira e ferro. Seus trabalhos tridimensionais capturam o caos e a constante transformação das metrópoles.
Já o artista Manuel Brandazza exibe Cae la noche tropical no espaço 280×1020, na Casa de Cultura do Parque. Nela, o argentino utiliza cerca de 10 kg de barro, proveniente do Rio Paraná, e desenhos e peças de seda branca para criar um mural que retrata, desde o cotidiano até questões sociais como o narcotráfico, de Rosário, sua cidade natal. “A parede funcionará como uma espécie de rio que abriga diferentes histórias”, explica Brandazza.
Ainda como parte da programação serão apresentadas as performances A primeira água, de Herbert De Paz, durante a abertura no dia 9 de novembro, às 16h30, e Sobre ela, de Carol Azevedo, no dia 7 de dezembro, às 17h. Neste último a Casa também promove uma roda de conversa com os artistas e curadores das exposições do III Ciclo Expositivo.
© 2024 Artequeacontece Vendas, Divulgação e Eventos Artísticos Ltda.
CNPJ 29.793.747/0001-26 | I.E. 119.097.190.118 | C.C.M. 5.907.185-0
Desenvolvido por heyo.com.br