O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand conclui o ano dedicado às Histórias da Diversidade LGBTQIA+ apresentando, de 13 de dezembro a 13 de abril de 2025, uma mostra coletiva que ocupa três espaços expositivos do museu. A exposição Histórias LGBTQIA+ reúne mais de 150 obras de arte e centenas de documentos nacionais e internacionais.
Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Julia Bryan-Wilson, curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea, MASP; colaboração de André Mesquita, curador, MASP; e assistência de Leandro Muniz, curador assistente, MASP, e Teo Teotonio, assistente curatorial, MASP, a mostra é organizada em oito núcleos: Amor e desejo; Ícones e musas; Espaços e territórios; Ecossexualidades e fantasias transcendentais; Sagrado e profano; Abstrações; Arquivos; e Biblioteca Cuir.
“O atual cenário global para pessoas queer e trans é desigual: a aceitação, a solidariedade e a visibilidade existem lado a lado com o ódio, a censura e a total proibição legal em diferentes partes do mundo. Assim, por um lado, uma atenção maior voltada a questões Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgênero, Queer, Intersexo, Assexuais e de outras minorias (LGBTQIA+) vem criando mais oportunidades para artistas e pensadores queer e trans. Todavia, por outro lado, pessoas LGBTQIA+ em todo o mundo – impactadas diferentemente por sua raça, classe, gênero, idade, nacionalidade – continuam enfrentando repressão. Nesse contexto, Histórias LGBTQIA+ reúne trabalhos que tematizam tópicos queer ou que sejam feitos por artistas, ativistas e pesquisadores LGBTQIA+. A mostra celebra a riqueza e a multiplicidade da criatividade queer nas artes visuais”, afirmam Julia Bryan-Wilson, curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea, MASP, e Adriano Pedrosa, diretor artístico. Queer, na língua inglesa, originalmente significa “estranho”, mas também, em algum momento, “sexualmente desviante”. Porém, desde o final do século 20, tem sido reivindicado por lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros como um termo amplo para identificá-los.
Justapondo o passado e a contemporaneidade, a mostra apresenta trabalhos de diversos períodos e correntes artísticas, evidenciando visões das histórias LGBTQIA+ que atravessam o tempo e o espaço, e ainda apontam estratégias de resistência. Em O beijo 20 (2024), da série Álbum dos desesquecimentos, a artista baiana Mayara Ferrão usa Inteligência Artificial para criar imagens que simulam fotos antigas, inventando, assim, uma iconografia de histórias de lésbicas negras, a fim de revelar narrativas que foram apagadas e imaginar novos futuros.
“Apresentamos uma diversidade de representações, grupos e experiências para além das imagens de subalternidade, desumanização e hipersexualização que historicamente foram colocadas sobre as pessoas LGBTQIA+. Também temos uma diversidade enriquecedora de estilos artísticos para pensar essa experiência do ponto de vista da arte e de possíveis revisões históricas”, afirma Leandro Muniz, curador assistente MASP.
A mostra apresenta trabalhos contemporâneos que estabelecem críticas e reflexões com base nos cânones da arte. Em Duas Fa’afafine (2020), a artista Yuki Kihara, de ascendência japonesa e samoana, fotografa pessoas da comunidade trans a partir dos esquemas compositivos de Paul Gauguin (França, 1848–1903), em uma crítica às famosas pinturas em que o francês representou as mulheres da Polinésia. Outro exemplo de diálogo com a tradição artística é Uma escultura para mulheres trans… (2022) da artista norte-americana Puppies Puppies (Jade Kuriki-Olivo). A obra, produzida em bronze, material clássico da história da arte, reproduz em escala um para um o corpo da artista a partir de um escaneamento tridimensional.
A exposição também coloca em debate os estereótipos e as contradições presentes na comunidade LGBTQIA+. Uma das obras que compõem a mostra é a fotografia Night Stage Raising Crew, Listening (2006), de Angela Jimenez, que registra a montagem do palco do Michigan Womyn’s Music Festival. Criado em 1976, o evento anual organizado por mulheres lésbicas feministas teve fim em 2015 devido às tensões causadas pela política de exclusão de mulheres trans.
Reunindo registros históricos da comunidade LGBTQIA+, o núcleo Arquivos conta com documentos de grupos comunitários auto-organizados do Brasil — como MUTHA (Museu Transgênero de História e Arte), Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT–SP) e Arquivo Lésbico — e do Sul Global, incluindo outros 12 países da Ásia, América Latina, África e mundo Árabe.
Histórias LGBTQIA+ integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da diversidade LGBTQIA+. A programação do ano também inclui as mostras de Francis Bacon, Mário de Andrade, Catherine Opie, Lia D Castro, Leonilson, dos coletivos Gran Fury e Serigrafistas Queer, da coleção MASP Renner, bem como mostras na Sala de Vídeo de Masi Mamani/Bartolina Xixa, Tourmaline, Ventura Profana, Kang Seung Lee e Manauara Clandestina.
A mostra faz parte de uma série de projetos em torno da noção plural de “Histórias”, palavra que engloba ficção e não ficção, relatos pessoais e políticos, narrativas privadas e públicas, possuindo um caráter especulativo, plural e polifônico. Essas histórias têm uma qualidade processual aberta, em oposição ao caráter mais monolítico e definitivo das narrativas históricas tradicionais. Nesse sentido, entre os programas anuais e as exposições anteriores, o MASP organizou Histórias da Sexualidade (2017), Histórias Afro-Atlânticas (2018), Histórias das Mulheres, Histórias Feministas (2019), Histórias da Dança (2020), Histórias Brasileiras (2021-22) e Histórias Indígenas (2023).
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