Como escreve Ailton Krenak, curador da mostra, no início de seu texto: “Nagakura-san é um samurai. Sua espada é uma câmera que ele maneja com a segurança de quem já passou por campos de refugiados e esteve no centro das praças de guerra, por lugares como África do Sul, Palestina, El Salvador e Afeganistão. Depois desse mergulho no inferno global, quando sentiu de perto a loucura dos seres humanos, o samurai da câmera descobriu a floresta amazônica e seus povos nativos”.
Algumas obras dos territórios em conflito fazem parte da exposição, contudo, os trabalhos do fotógrafo em Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak concentram-se nos registros permitidos realizados nas viagens da dupla, principalmente pelo território amazônico. Os percursos abarcaram quase 5 anos, de 1993 a 1998, dezenas de horas, duas vezes por ano, sempre na companhia da produtora e intérprete Eliza Otsuka. A exposição, acompanhada de encontros e lançamento de livro, é o resultado de uma “união de esforços para fazer uma celebração em torno dessa amizade alimentada pelo sonho e beleza da obra do fotógrafo Hiromi Nagakura”.
Segundo Krenak, a mostra traz algumas das belas imagens das viagens às aldeias e comunidades na Amazônia brasileira. “Momentos de intimidade e contentamento entre ‘amigos para sempre’ inspiraram esta mostra fotográfica mediada por encontros com algumas das pessoas queridas que nos receberam em suas cozinhas e canoas, suas praias de rios e nas aldeias: Ashaninka, Xavante, Krikati, Gavião, Yawanawá, Huni Kuin e comunidades ribeirinhas no Rio Juruá e região do lavrado em Roraima”, destaca o curador. As viagens alcançaram os estados do Acre, Roraima, Mato Grosso, Maranhão, São Paulo e Amazonas. Muitos indígenas, que foram visitados pelas lentes do fotógrafo na companhia de Krenak, estarão presentes na abertura da exposição.
A aproximação entre Krenak e Nagakura começou numa conversa, sentados em esteiras, na sede da Aliança dos Povos da Floresta, no bairro do Butantã, em São Paulo, onde se conheceram, quando Eliza Otsuka apresentou o plano de viagens de Nagakura.
“Ela [Eliza] resumiu com estas palavras o conceito todo do projeto para alguns anos dali para frente: ele vai ser a sua sombra por onde você for, quando estiver dormindo e quando estiver acordado”, recorda-se Krenak. Esta história toda está reunida em um dos livros escrito em nihongo, publicado pela editora Tokuma (Tóquio, 1998), intitulado Assim como os rios, assim como pássaros: uma viagem com o filósofo da floresta, Ailton Krenak assumido por Krenak como a sua biografia feita por Hiromi Nagakura. Uma versão do livro, com autoria de Ailton Krenak a partir dos depoimentos atualizados será lançado no Brasil pela Dantes Editora, como um dos eventos que integram a programação da mostra. O lançamento de Um rio, um pássaro acontece dia 27 de outubro, das 18h às 20h, no Instituto Tomie Ohtake, com mesa e autógrafos.
As viagens de Krenak e Nagakura já foram registradas anteriormente no Japão em livros, exposições e documentários para a NHK. O livro Seres Humanos – Amazônia, lançado em 1998 em Tóquio, teve enorme repercussão e foi seguido de duas exposições e exibição em programas na TV com muita mídia voluntária, um espaço raro para o reconhecimento do Brasil, Amazônia e povos indígenas. “Acompanhei, como convidado especial, Hiromi Nagakura em programas ao vivo na TV em horário nobre, antecedido por fala de fim de ano do imperador. Não foi pouca coisa o impacto dessas exposições e livros-reportagens para a formação de uma opinião pública esclarecida sobre a realidade dos Yanomami e Xavante, e da Amazônia mesma. Afinal, nós andamos por dezenas de aldeias nas cabeceiras dos rios Juruá, Negro e Demini, Tarauacá e rio Gregório, além de cortar estradas pelo cerrado e regiões de florestas onde a vida continua vibrante como nos primórdios da criação”, completa Krenak.
Uma publicação, editada pelo Instituto Tomie Ohtake, marca a exposição, ao reunir um conjunto de obras de Nagakura e ensaios assinados por: Angela Pappiani; Claudia Andujar; Laymert Garcia dos Santos; Lilia Moritz Schwarcz; e Priscyla Gomes.
Essa exposição tem curadoria de Ailton Krenak e curadoria adjunta de Priscyla Gomes, Angela Pappiani e Eliza Otsuka.
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