Guga Szabzon (1987, São Paulo, SP) utiliza a costura sobre placas de feltro, em sua maior parte de grandes dimensões, para construir imagens que se assemelham a ensaios cartográficos, paisagens ou, ainda, desenhos que sugerem automatismo e rapidez. Esses trabalhos são realizados no contraste entre o gesto da mão e a imprevisibilidade da costura por meio da máquina. Em suas obras recentes, selecionadas para a primeira exposição individual da artista na Millan, as linhas se tornaram autônomas, sua produção assume suportes de maiores dimensões, bem como intensificam a liberdade de experimentação com as formas e materiais.
Tremor (2022) –que dá título à exposição– é um dos destaques entre as obras inéditas da mostra. O trabalho se estende da parede até pousar sobre o chão. Nele, linhas formadas com alternância de cores primárias se estilhaçam em tracejados cujo declive é sugerido por essa passagem progressiva entre movimentos dotados de direcionamento espacial à completa dispersão. “O título da mostra faz menção a essas brechas, acidentais e intencionais, que irrompem continuamente entre os movimentos e relações das linhas que coexistem nos trabalhos de Guga”, escreve o curador da mostra, Cristiano Raimondi, que teve assistência de Daniel Donato Ribeiro. Tal movimento é enfatizado pela própria ocupação dos trabalhos no espaço expositivo, revelando um pensamento que perpassa toda a exibição. Em seu processo, Guga Szabzon se volta para o tecer, a escrita e o desenho como práticas que se misturam. Pela primeira vez, serão apresentados os cadernos da artista, utilizados para registrar sonhos, desenhar, fazer colagens, reunir escritos poéticos e conjuntos de frases ditas ou escutadas em seu cotidiano – que posteriormente se integram a sua obra em tecido, seja formalmente, seja recuperando frases que irão nomear ou serem tecidas nos trabalhos em feltro. As obras carregam a ideia de mapas feitos à mão que registram as impressões sensíveis de pequenos acontecimentos (Ventania, 2022) a estados oníricos. Tremor é a quinta individual da artista e sua primeira na Millan, desde que sua obra passou a ser representada pela galeria em fevereiro de 2022.
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