Futuros Vencidos é um percurso íntimo de Vinicius Libardoni, uma jornada que diz respeito ao êxodo territorial e sentimental do artista.Nascido no interior do Paraná, formado em arquitetura em Florianópolis com passagem profissional por São Paulo, precisou se deslocar dez mil quilômetros para reconhecer na cidade polonesa de Wrocław, onde fez um mestrado em gravura, uma geografia que lhe fosse familiar.
Esta exposição é um relato gráfico de sua busca pessoal por reencontrar propósito em uma profissão que lhe parecia exaurida de sentido.Longe de casa, Libardoni foi confrontado com uma realidade completamente nova que, de golpe, prendeu sua atenção. Sua curiosidade, somada ao estranho hábito de caminhar olhando para cima, comum aos arquitetos, lhe aproximou daquelas novas velhas arquiteturas polonesas e o passado de influência alemã em ruínas, relíquias do Bloco de Leste, séculos distintos coexistindo e sobrepondo-se no mesmo espaço urbano.
Os edifícios que compõem esta série refletem o interesse latente pelo tema da ruína e da suspensão do tempo. Futuros que poderiam ter sido, mas que nunca chegarão a sê-lo, são as possibilidades nunca vividas ou, ainda, uma profecia de futuro que não poderá jamais existir. Realizações gráficas que tratam de imprecisões temporais, retratos de um passado no tempo presente sem possibilidade de futuro. Os edifícios são aqui representados pelo arquiteto-gravador como ruínas em construção, arquiteturas que evocam um forte sentimento de nostalgia – a nostalgia do artista longe de casa.
Geografias sentimentais, os objetos de interesse de Libardoni podem ser entendidos como rugas no espaço-tempo. Em seu livro A natureza do espaço, o geógrafo Milton Santos chama de rugosidade aquilo que fica do passado como “forma, espaço construído, paisagem, o que resta do processo de supressão, acumulação, superposição, com que as coisas se substituem e acumulam em todos os lugares”.
Tal qual a geografia do corpo, com suas dobras, fendas e asperezas, as rugas do território urbano são registros da passagem do tempo naquele lugar – cicatrizes que atestam presenças ausentes: o próprio passado no presente. É significativo, ainda, que a técnica empregada pelo artista consista precisamente no ato de entalhar rugas no território da chapa metálica. Com a ponta-seca, risca, fende e texturiza a chapa, imprimindo-lhe rugas que, por sua vez, imprimem imagens de arquiteturas. Quando partiu com destino a Wrocław, Vinicius Libardoni buscava se afastar da arquitetura e se aproximar da arte. Ironicamente, reconciliou-se com aquela através desta. A grande virtude dessa escolha é que agora o artista-arquiteto projeta sem o fardo do tempo.Suas arquiteturas não correm o risco de envelhecer. (texto do artista)
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