O projeto Exploratorius, da artista visual Elaine Pessoa, interroga a influência colonialista nas “imagens do futuro”, incluindo aquelas produzidas pela inteligência artificial. Partindo especialmente das descrições dos diários dos naturalistas Spix e Martius, na obra Viagens pelo Brasil de 1817-1820, e de um conjunto de pesquisas em arquivos e coleções portuguesas, acervos pessoais e diversas experimentações com programas de inteligência artificial, a artista explora imageticamente como o olhar e o pensamento visual, que intermedeiam os modos de conhecer a história da ciência e política contemporânea das imagens, seguem predominantemente pautados por filtros e regimes colonialistas. O futuro das imagens atrelado ao chamado colonialismo de dados é evidenciado pela artista, por meio de uma pesquisa apurada e de um experimentalismo estático que inclui programas de lA, pintura, desenho e a própria fotografia direta.
O resultado do trabalho é apresentado em três séries: lamínuli IA s, logi IA s e paisa IA gens. Sendo duas delas, logi lA s e paisa IA gens mostradas de forma inédita nessa exposição. Paisa IA gens, por exemplo, mostram que a colonização estética e imaginária de países colônias, como o Brasil, reservam ainda hoje em suas representações tropicais de matas, florestas e distintos biomas brasileiros, cores meramente atribuídas a paletas europeias de tons não vívidos, atualizando nesse colorismo o poder da estética de um pensamento colonial que impôs suas lógicas de exploração. Essa visão hegemônica e sua violência estética e política é ressaltada no trabalho artístico de Elaine Pessoa, a partir também da ideia de natureza estetizada como sublime, pitoresca, regida essencialmente pelas descobertas minerais, de plantas nativas e animais classificados quase sempre como exóticos sem nenhuma atribuição ao pertencimento do território ou à ancestralidade e às histórias vinculadas à terra e aos povos originários.
Esse tema é desvelado pela artista em uma série de imagens intitulada Logi IA s. Neste conjunto de trabalhos, encontram-se plantas cartográficas, esquemas e mapas das tecnologias dos viajantes, como rosa dos ventos, cartas marítimas, além de desenhos e cadernos de campo dos viajantes zoólogos e botânicos, retomados de arquivos históricos e bibliotecas coloniais. Esses materiais são revisados pela artista com intervenções de manchas e outros preenchimentos metálicos em alusão aos minerais que foram durante uma longa história colonial – e ainda hoje – usurpados de maneira violenta a partir de inúmeras invasões. A artista propõe com essas interferências nesta série repensar as invasões sofridas e atestar a necessidade de revistar essa história. Exploratorius procura enfatizar a necessidade de decolonização da categoria chamada natureza ou paisagem brasileira como forma de repensar as relações de poder entre humanos e não-humanos, especialmente considerando as desigualdades socioambientais decorrentes dos processos de exploração e apropriação ilegal desde o período colonial até o século 21.
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