Obra de Marcos Siqueira / Divulgação
No processo de definir o objeto de estudo geografia, Milton Santos oferece, em seu livro A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção, algumas definições de espaço. Em uma delas, o autor declara que o espaço, esse “conjunto indissociável (…) de sistemas de objetos e sistemas de ações”, “reúne a materialidade e a vida que o anima”.
A reunião entre materialidade e vida é um conceito que me vem à mente quando penso na Serra do Cipó, entorno em que Marcos Siqueira vive e trabalha. Nos caminhos do Cipó e de seus Campos Rupestres, Siqueira, esse observador lento (ou desacelerado), profundo e minucioso, vai apontando a vida que passaria despercebida aos sentidos destreinados.
O Quartzo e outras pedras do caminho, o musgo de cor viva que se desenha sobre algumas delas, a arquitetura das árvores, as variadas configurações formais das folhas, pequenas flores de tonalidades inesperadas, raízes de cheiro, incidências de luz, linhas sobrepostas do/no horizonte, nada escapa aos sentidos de Siqueira, calibrados pelas formas, texturas, sons e frequências de seu mundo natural. Nesse espaço conhecido e de limites definidos, o artista segue encontrando o novo em uma pedra, em uma flor, em uma planta, em um cheiro diferente.
O conjunto de trabalhos apresentados na exposição Equilíbrio Infinito marca as reflexões de Marcos Siqueira sobre espaços – espaço da Serra do Cipó com seus desdobramentos sensoriais, o espaço da vida cotidiana que inspira suas obras, e o próprio espaço da pintura –, sobre a ideia de limite inerente a esses espaços e sobre as possibilidades de expansão que eles oferecem.
Nessas obras, o conceito de equilíbrio é evocado em diferentes momentos: na imagem do corpo que salta no ar, na figura que se equilibra sobre os ombros de outra enquanto acende uma lâmpada pendurada no céu escuro; do pescador que se equilibra no barco solitário; na imagem de garotos dispostos em série, apoiados em estacas no ar. No plano pictórico, a configuração de seus elementos também nos convida a pensar em equilíbrio.
Entretanto, essas imagens figurativas que se insinuam como uma representação da vida cotidiana da/na Serra do Cipó não se sustentam como tal. Ao contrário, elas criam um campo de tensão entre a realidade e a imagem, fazendo emergir um espaço alternativo, conceitual e meditativo que surge na intersecção entre memória e imaginação, entre o limite e a expansão: um espaço de equilíbrio infinito.
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