A Sala de Vidro do Museu de Arte Moderna de São Paulo apresentará uma nova obra entre 02 de abril e 01 de setembro de 2024: Lataria Espacial (2022), uma instalação do artista paraense Emmanuel Nassar. Aberta à interação do público, a obra remete aos trabalhos que o artista desenvolve desde os anos 1980, usando a geometria e cores de tons fortes.
Desde Recepcôr (1981), Nassar foi se afastando da pintura figurativa e passou a trazer para seus trabalhos uma discussão sobre a precariedade e sobre o sonho de novas tecnologias. O trabalho que inaugura essa pesquisa é uma espécie de aparelho de alta tecnologia que receberia tudo aquilo que rondava a cabeça do artista. Recepcôr é uma obra que não tinha apenas uma solução estética, mas também era funcional.
Essa ligação com uma suposta tecnologia tratada de uma forma irônica, em geringonças com chapas velha de metal, passa por todo o conjunto da obra do artista desde então. Essa relação aparece especialmente em motivos que remetem à corrida espacial, à conquista dos ares, expressados em coisas como foguetes, lunetas, pontos cardeais e estrelas.
O artista conta que o interesse por busca interplanetária vem de uma memória afetiva. Nascido em 1949 na cidade interiorana de Capanema, no nordeste do Pará, Nassar é filho de um comerciante simples e de uma professora primária. Ele cresceu estimulado por diversas curiosidades sobre a conquista espacial, uma fixação de seu pai. “Ele era apaixonado pelas novidades do desenvolvimento do Brasil, pelos avanços tecnológicos. Essa coisa no meu trabalho é uma espécie de homenagem à memória do meu pai, pois eu sou filho dessa herança”, explica.
Em Lataria Espacial, Emmanuel Nassar constrói um jatinho particular inspirado no Phenom 300, um avião nacional de alta performance, um dos mais vendidos do mundo, desenvolvido e fabricado pela Embraer. Na obra, toda essa modernização representada por esse avião é contrastada pela precariedade de uma instalação construída em pedaços, ligando chapas de zinco galvanizadas que são pintadas com esmalte sintético.
Feito com uma solução simples de dois planos e suspenso por dois cabos, o trabalho aproxima dois opostos, “a lataria envelhecida e com sinais de desgaste, o que há de primitivo e popular nas funilarias do subúrbio” e as “missões espaciais e altamente tecnológicas que colaboraram para o desenvolvimento das comunicações via satélite”, aponta Cauê Alves, curador-chefe do MAM, em texto que acompanha a obra.
O curador ainda avalia que “se o voo está ligado à imagem da liberdade que tanto aviões quanto pássaros evocam, uma das asas de Lataria Espacial está decepada, como se estivesse incrustada na parede”. Desta forma, estando dentro da Sala de Vidro, “a obra parece tratar mais da impossibilidade de levantar voos do que da completa realização do desejo de liberdade”.
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