Parte da programação dos 50 anos da instituição paulistana, “Em Mãos” mostra 30 obras de seis jovens artistas contemporâneos brasileiros. A proposta é trazer um diálogo entre as obras de artistas representados pela galeria – Carla Chaim, Carlos Nunes e João Trevisan – e convidadas: Ana Takenaka, iah bahia e Nathalie Ventura.
“O gesto e sua interação com os jogos de aparição e desaparecimento na esfera dos objetos e das formas são explorados por estes artistas participantes, que, por meio de diversas abordagens, dedicam-se a transformações: elementos visuais e literários surgem para logo se dissolverem”, destaca a curadora Ana Roman. Entre os temas, destacam-se a representação do tempo no mundo contemporâneo veloz, assim como as questões ambientais e experimentações de cor, luz e sombras.
Com três pinturas a óleo, João Trevisan evoca lugares introspectivos realizando uma jornada interior. Depois do sucesso da individual “O Dorso do Tigre”, no início de 2024, o artista apresenta um recorte de seu universo silencioso em “Em Mãos”. Seus trabalhos noturnos mostram a interação entre a tinta a óleo e a porosidade do linho, evidenciando as camadas de tinta que dão densidade às atmosferas. Uma busca pelo sublime pode ser vista em pinturas como “Sinto o Suor Escorrer”. Trevisan reflete sobre o vazio, o tempo e a luz, convidando o espectador ao meditativo.
“Em mãos” também mostra uma artista dedicada à experimentação: Carla Chaim, que aborda o desenho em uma variedade de formas, incluindo mídias virtuais, tridimensionais e instalativas. Os trabalhos de Chaim revelam o próprio processo de criação, unindo elementos dicotômicos como regras estritas e movimentos físicos naturais.
Já iah bahia apresenta uma intrigante interação entre corpos moles e o espaço, evocando figuras de Lygia Clark e dos neoconcretos. Sua habilidade em alojar esses corpos suspensos evoca também figuras fantasmas, elevando a forma invisível para uma atmosfera volumosa, caso da obra da série “outras frequências”, em papel pardo. “iah bahia forma um gesto quase mágico, encantado”, pontua a curadora.
Buscando inspiração nas pequenas coisas do cotidiano, como objetos simples e a luz, Carlos Nunes revela os processos de esgotamento da matéria. Ele estabelece procedimentos para testar hipóteses sobre a criação do universo, como na obra “Big Bang”. Em “Em Mãos” ele mostra o impacto da luz solar através dos papéis manteiga coloridos, evocando práticas elementares da física em suas obras.
Este flerte com o mundo natural também pode ser visto na obra de Nathalie Ventura, que faz justaposições entre ferro e rocha, e explora a turmalina e o carvão. A artista constrói pequenas paisagens com elementos distintos, matérias faturadas para pensar o antropoceno. “Nathalie Ventura dialoga com a discussão ambiental, tema onipresente e urgente”, coloca Roman
O filosofo francês Jean-Luc Nancy dizia que todas as coisas do mundo podem se encostar, mas elas não se encostam, pois sempre existe um espaço entre elas: inbetween. E é neste lugar, inbetween, que reside o trabalho de Ana Takenaka. Em processos manuais sobre matérias muito delicadas, como o papel japonês, a artista desenvolve gravuras que vão se tornando outra coisa, em um pensamento muito aproximado ao de Mira Schendel, que é uma referência, mas, ao mesmo tempo, a especificidade do trabalho da Ana é de não ocupar totalmente a superfície pictórica. Ao preencher o desenho em lugares específicos, a artista explora o espaço entre a superfície que ela se apropria enquanto desenho e a superfície vazia. O trabalho dela recai sobre esse lugar de pensar os espaços ‘entre’. “Nesta exposição propomos investigar o lugar do gesto e a sua importância e posição dentro da arte. E no trabalho da Ana Takenaka isso se coloca de uma forma muito presente e visível”, destaca Ana Roman.
A exposição “Em Mãos” não apenas destaca a diversidade e a inovação características da Galeria Raquel Arnaud, como também traz ao público discussões contemporâneas, políticas e ecológicas que pautam artistas emergentes. Com obras que variam de escultura e instalação a trabalhos em papel e pinturas a óleo, o diálogo temático construído entre os seis jovens artistas transpassa as barreiras das limitações estruturais e materiais.
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