Pessoas que eram coisas que eram pessoas, é a primeira individual do artista carioca Elian Almeida em São Paulo. Acompanhada por ensaios críticos de Keyna Eleison e Luiz Antônio Simas, a mostra apresenta um conjunto de pinturas inéditas, resultado do aprofundamento da pesquisa de Almeida sobre a cultura e memória afro-brasileira. Nos novos trabalhos, o artista se debruça sobre as manifestações culturais do Recôncavo Baiano. O deslocamento, no trabalho de Almeida, se dá em via dupla: temporal e espacial. “Nasci duas vezes no mesmo lugar”, o artista costuma afirmar. O local a que se refere é a região do Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, um dos principais pontos de chegada e comercialização de negros a serem escravizados no Brasil durante o século XIX. Para Almeida, o nascimento é duplo, pois a chegada de seus ancestrais, séculos antes, neste mesmo porto, na condição de “coisas” e não “pessoas”, é um fato histórico que determinou seu nascimento, neste mesmo lugar, no ano de 1994. Esta constatação revela o quanto a prática de Almeida busca entrelaçar diferentes tempos e narrativas a sua própria biografia. No entanto, a sensibilidade de sua abordagem faz com que suas pinturas extrapolem o campo biográfico, abrangendo a experiência de outros corpos racializados no Brasil.
O artista, que já realizou pinturas baseadas no fluxo de africanos abduzidos de sua terra natal e traficados para serem escravizados no Novo Mundo, agora volta-se para diásporas no território brasileiro, em especial, na diáspora da população baiana para o Rio de Janeiro. Almeida vê nessa migração as origens de um encontro cultural que fomentaria a emergência de expressões de resistência da cultura afro-diaspórica, em especial no território conhecido como Pequena África, no Rio de Janeiro. Em Pessoas que eram coisas que eram pessoas, Almeida reúne símbolos e imagens provenientes de uma ampla pesquisa iconográfica, para criar composições sincréticas que atravessam tempos na proposição de um novo imaginário mítico, não por remeterem a um tempo heroico, mas pela tentativa de retraçar possíveis origens para a cultura afro-brasileira, demonstrando como a disputa de narrativas também se dá através da proposição de novas formas de representação.
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