Para compor a exposição Eis o deserto, e nele me sonho. Eis o oásis, e nele não sei viver, que a Almeida & Dale abre, dia 11 de novembro, na Casa SP-Arte, a curadora Galciani Neves escolheu trabalhos dos artistas Iberê Camargo (1914-1994, Rio Grande do Sul) e Oswaldo Goeldi (1985-1961, Rio de Janeiro) que se manifestam em procedimentos como invenções de performatividades dos corpos nos espaços, gestos para ordenar as coisas, cálculos para pensar as distâncias e o tempo.
“A seleção organiza-se a partir de uma percepção acerca dos modos como eles organizavam os componentes e os espaços para a construção de cenas. Nesse sentido, trabalhos que abarcam um importante lastro de tempo do percurso dos dois artistas, com obras produzidas entre as décadas de 1940 e 1990, apresentam lugares, vazios e temporalidades que dizem respeito simultaneamente a algo que acabou de acontecer, que instaurou uma situação e que logo em seguida vai produzir um impacto ficcional”, conta Galciani.
O título da mostra, trecho do livro “Venenos de Deus, Remédios do Diabo”, do escritor moçambicano Mia Couto (1955), traz as contradições de um personagem em viagem que mais se preocupa com as pegadas que deixa, ou seja, com os caminhos que percorre e as memórias que ousa registrar, e que quer se cobrir de saudade. No contexto dessa mostra, a narrativa de Couto ousa enfatizar as poéticas de fabulação de espaços e as mirações constituídas por meio dos objetos, das relações entre as figuras humanas e os espaços em que se encontram, dos fragmentos de paisagens e em como os dois artistas travaram embates com a realidade para transformar em ficção/imagem os lugares que imaginaram e suas marcas.
“Tentando não forçar aproximações entre os dois artistas, elaboramos um espaço de exposição com diálogos em que as singularidades se acentuam e também sugerem algumas afinidades: tonalismos dramáticos, sombras sobrevoando escuros, temas relacionados à solidão e construções cênicas que impõem uma espécie de deriva aos objetos, às massas de cor, às formas, às figuras humanas, que parecem estar, de distintos modos, pressionadas pelo espaço, seja pelo espaço vazio que se deixa preencher apenas por uma solidão incurável, seja pela ideia de um espaço atormentado por um tempo estendido que elabora paralisias, isolamentos e imperceptíveis acontecimentos”, escreve a curadora.
A exposição conta ainda com um programa de performances que dialogam com o universo poético dos dois artistas. Artistas contemporâneos vão habitar a casa com ações, resíduos de performances e diálogos com a arquitetura. Além disso, uma mostra de filmes, como “Limite”, de Mario Peixoto, propõe uma contextualização acerca de um debate sobre um Brasil nada tropical e bastante sombrio – imaginário já bastante enfatizado pela crítica brasileira quando Goeldi, Iberê e seus contemporâneos elaboravam um “outro Modernismo”.
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