P. Staff, “Weed Killer” (still), 2017. Cortesia de P. Staff e da Commonwealth and Council.
Earthshaker é uma exposição, publicação e série de programas públicos organizados pela Del Vaz Projects, reunindo obras de Ana Mendieta (1948–1985), Derek Jarman (1942–1994) e P. Staff (n. 1987). Apesar de pertencerem a diferentes gerações, geografias e práticas artísticas, esses três artistas compartilham um gesto subversivo fundamental: seus trabalhos costuram corpos dissidentes ao ambiente natural e químico como um ato de resistência contra definições, controle ou expulsão por sistemas autoritários.
Por meio de camuflagem, colagem, poesia e manipulação cromática—processos análogos à metamorfose, sublimação e transmutação—essas práticas desafiam distinções fixas entre corpo e terra. Ao imbuir o orgânico com o alquímico, os artistas dissolvem as fronteiras que tradicionalmente distinguem o humano do natural, desestabilizando linguagem, matéria e paisagem para situar o espectador em um campo de forças irreconciliáveis.
Ana Mendieta, cuja carreira breve e inovadora transitou entre desenho, filme, fotografia, escultura e instalação, explorou uma ampla gama de materiais para investigar a experiência do deslocamento, da perda e da ancestralidade. Forçada a deixar Cuba aos doze anos e viver nos Estados Unidos como exilada política, Mendieta utilizou imagens do próprio corpo e, posteriormente, de figuras mais universais para se integrar à paisagem em sua série Siluetas. As imagens expostas, produzidas entre 1978 e 1980, registram silhuetas camufladas quase imperceptivelmente em leitos de pedra cobertos de musgo, margens lamacentas de rios e florestas densas de Iowa, onde a artista viveu e estudou. Em trabalhos como Untitled: Silueta Series (1978), Mendieta delineou um corpo com pólvora branca em um campo aberto, ateando fogo até que a silhueta fosse completamente iluminada. Quando a fumaça se dissipou, restou apenas uma cicatriz carbonizada no solo—um vestígio efêmero da fusão entre corpo e terra. Ainda que suas ações tenham sido registradas em fotografia e vídeo, a verdadeira obra de Mendieta era a identificação total e irreversível com a natureza.
Derek Jarman, cineasta visionário, escritor, pintor, designer e ativista pelos direitos das pessoas com HIV/AIDS, foi uma figura central da contracultura britânica dos anos 1970 e 80, contestando a política conservadora de Margaret Thatcher por meio de representações vibrantes e explícitas da vida queer. Em 1986, após ser diagnosticado com HIV, Jarman comprou um chalé de pescadores abandonado em Dungeness, Kent, onde cultivou um jardim exuberante em meio à aridez do terreno, próximo a uma usina nuclear. Entre 1986 e 1993, ele criou as Black Paintings, telas cobertas de piche e colagens de objetos simbólicos—seringas, sementes, pregos de caixão, bíblias, preservativos, balas de revólver, bússolas, rosários e pedaços de vidro quebrado com inscrições poéticas—transformadas em relicários melancólicos e místicos. Esses trabalhos evocam os espelhos de obsidiana de John Dee, usados para comunicação com entidades espirituais e associados ao processo alquímico de melanosis, em que a matéria negra era refinada para criar a pedra filosofal. Mais tarde, nos Slogan Paintings, Jarman adotou um tom mais combativo, gravando frases provocativas e jogos de palavras diretamente na tinta densa, muitas vezes com as mãos nuas. Criado em 1992, Acid Rain associa ironicamente o envenenamento ambiental causado por gases de efeito estufa à devastação da epidemia de AIDS, que deixava marcas físicas e sociais igualmente indeléveis.
Na interseção entre filme, instalação e poesia, P. Staff emprega mídia experimental e ambientes construídos para examinar temas que vão da biopolítica à astrologia, dança e cuidados paliativos. Seu trabalho investiga como corpos—especialmente os de pessoas queer, trans e com deficiência—são interpretados, regulados e disciplinados dentro de sociedades violentas e hipercontroladas. Criadas para a instalação On Venus (2019), as peças Compensation e On Living, Still II consistem em barris de aço corroídos lentamente por ácido lático, derramado por tubos pressurizados espalhados pelo espaço expositivo. Essa degradação lenta espelha a maneira como organismos vivos absorvem os impactos ambientais até atingirem um ponto de colapso. Já em To Live a Good Life VI (2022), Staff preserva uma impressão fluorescente—uma fotografia manipulada de um corpo envolto em um ritual não identificado—dentro de uma resina translúcida, onde também estão encapsulados cabelo, cinzas, insetos mortos e enxofre, criando um arquivo corporal alquímico. Sua obra mais recente, In Ekstase (2023), projeta um poema em cinco ventiladores holográficos, criando uma composição pulsante e estroboscópica que distorce a percepção e provoca um estado de êxtase visual e sensorial.
O que aproxima Mendieta, Jarman e Staff é a maneira como absorvem, refletem e refratam o ambiente ao seu redor—seja ele volcânico, nuclear ou tóxico—ao mesmo tempo em que exploram suas implicações físicas e metafísicas. Transformados por calor, fumaça, fogo e ácido, seus trabalhos revelam o corpo e a terra como espaços em perpétua mutação, dissolução e recomposição.
Earthshaker é tanto uma exposição quanto um mapa, traçando novas conexões entre o corpo e o mundo alquímico. O mapa começa em nós e aponta para um futuro incerto. Aqui, a arte não é apenas uma representação do tema, mas uma experiência vivida—um campo de resistência, experimentação química e possibilidades emergentes em um planeta envenenado por si mesmo.
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